Foi em um estúdio improvisado na sala do apartamento onde reside em Maceió que o fotógrafo Gonzaga Soares (https://www.instagram.com/gonzaga.photos/) deu início a um projeto que mudaria a vida dele e de tantas outras pessoas. Ele trabalhou durante anos para uma empresa no segmento de fotografia turística e, durante esse tempo, viu a necessidade de atender a um público específico, o LGBTQIA+, que tem pouca referência de profissionais na fotografia.
“Eu pensei em atrair esse público mesmo, criar conteúdo para ele, para que quando as pessoas quiserem fazer um ensaio de casal, um ensaio de família, que elas se sintam confortáveis e à vontade com o fotógrafo, sabendo que há respeito e entendimento de que todos somos seres humanos incríveis, cada um com sua individualidade, sem olhar preconceituoso ou de repulsa, reprovação”, comenta o fotógrafo.
Fazer enxergar a si a partir do olhar do outro é um lema seguido em cada ensaio fotográfico. Mas, para garantir que o trabalho seja a “cara” do fotografado, é preciso todo um planejamento para construir o tema do ensaio. Para isso, Gonzaga estabelece um diálogo para conhecer as peculiaridades de cada um.
“Tem que ser algo que pertença ao universo da pessoa, quais são as leituras, que tipo de música gosta de ouvir, os filmes que ela curte, porque tudo isso vai fazer com que a gente construa o ensaio que ela quer. Também pergunto quais as fotos que a pessoa gostaria de fazer. Então é nesse diálogo que a gente começa a construir o ensaio fotográfico”, diz.
Gonzaga Soares também faz ensaio de nu artístico e cerca de 90% do público dele é constituído por pessoas do sexo masculino. Ele afirma que muitos têm o desejo de fazer esse tipo de ensaio, mas não sabem como abordar o fotógrafo para solicitar o trabalho.
“Eles querem ter essa experiência de se verem retratados, porque nós vemos muito isso no universo dos artistas, mas o ser humano comum muitas vezes não consegue, porque, mais uma vez, faltam referências no mercado. A procura tem sido satisfatória. Muitos chegam tímidos, mas, aos poucos, nós conseguimos efetivar o ensaio fotográfico”, conta.
Sobre a divulgação do material em redes sociais com o intuito de dar publicidade ao trabalho, Gonzaga afirma que as fotos são sempre das pessoas, sendo publicado apenas o que for permitido, com assinatura e todo o procedimento necessário.
“Antes de publicar qualquer foto, seja em minhas redes sociais ou em meu portfólio, eu sempre consulto essas pessoas. Uma vez que autorizam, eu publico. Até hoje não tive nenhum problema sobre isso, até porque elas gostam do resultado publicado”, assegura.
Gonzaga afirma que existe um padrão de corpo imposto pela mídia – do homem sarado ou da mulher esbelta, mas a ideia dele é atingir a todos, fazendo com que essas pessoas enxerguem que são bonitas do jeito que são. “Elas têm que se sentir bem e enxergar a beleza que elas têm, de magro a gordo”.
Soares diz que muitas vezes é abordado por pessoas elogiando o trabalho dele, mas dizendo que não têm corpo para aquele tipo ensaio. Ele afirma que basta apenas uma conversa para que elas mudem de ideia. “Todo mundo é belo e o resultado é maravilhoso. Quando elas veem o material produzido, conseguem enxergar o quanto são belas, mesmo fora desses padrões impostos pela sociedade”.
Pequeno Histórico
Gonzaga saiu de Quebrangulo, terra de Graciliano Ramos, aos cinco anos de idade. Viajou com a família para morar na cidade grande e se apaixonou pela fotografia ainda na adolescência. “Acho que a fotografia sempre fez parte de mim. Eu venho do tempo da fotografia analógica, então eu já adorava clicar tudo, basicamente. Então, ainda bem moleque, na adolescência, quando eu comecei a desenvolver algum gosto por arte, foi que eu me apaixonei pela fotografia”.
Ele trabalhou em uma empresa no segmento de fotografia turística e já fotografou cadeirantes, pessoas com câncer, pessoas cegas ou com deficiência visual. “No caso de pessoas com câncer, eu sabia que aquele ensaio de família seria o último para ela, então, vê-la me abraçar chorando e agradecer foi algo que não tem preço”, afirma.
“A fotografia proporciona boas coisas às pessoas. Eleva a autoestima e funciona como uma terapia, uma vez que elas começam a se enxergar de maneira diferente, porque, de certa forma, quando elas observam o resultado do ensaio, elas veem um olhar sobre elas que elas não tinham. Então essas pessoas descobrem uma beleza que, de repente, não sabiam que tinham, porque é o olhar de um terceiro sobre elas”, define.