Quando Polícia Federal tinha restrições investigativas e quase não podia desbaratar as quadrilhas instaladas no Congresso Nacional e o Ministério Público Federal era melindrado ante o abuso de poder político dos líderes regionais no Senado e na Câmara dos Deputados, muitas vezes com o apoio do Chefe do Executivo, vozes como a da então senadora Heloísa Helena cortava o quadro de calmaria e de legalidade sobre todos os atos que os eleitos pintavam. Tachavam, não apenas Heloísa Helena como também muitas outras vozes, como louca, descontrolada e incapaz a voz que denunciava a bandalheira que já drenava a verba pública, causando prejuízos ao erário e danificando, de modo irreparável, a democracia, a honra e a moralidade públicas.
Em Alagoas, Heloísa Helena foi a principal voz que se opôs aos canalhas, mesmo sofrendo atentados à sua integridade física e patrimonial. Denunciou atos e citou nomes. E mesmo não vencendo várias eleições subsequentes, jamais mudou de posicionamento. Os alagoanos não podem alegar que não sabiam da roubalheira ou que foram enganados – a verdade é que não quiseram ouvir e venderam o voto àqueles que agora estão sendo denunciados na Operação Lava Jato.
Embora não tenham sido muitos os que denunciaram o que agora a Operação Lava Jato investiga e confirma, todos os brasileiros, em algum grau, sabiam que nada ia bem nos Palácios dos governos estaduais, assembleias legislativas e nas bancadas do Congresso Nacional. Os brasileiros não foram às ruas nem fazem panelaço como ocorreu meses atrás porque sabem que uma parcela da responsabilidade repousa sobre os outros de quem fez (e ainda faz) reuniões (na calada da noite e com pessoas selecionadas) no período eleitoral; de quem fideliza-se a uma figura pública ou outra em troca de promessas de trabalho ou vende-se por meros cinquenta reais. Repousa sobre os ombros de todos os indignados que apoiaram o impedimento de Dilma Rousseff e que não apoiam a perda sumária do mandato dos envolvidos em esquemas ilícitos envolvendo caixa 2 e tráfico e abuso de poder e influência.
O judiciário e seus órgãos auxiliares, mesmo possuindo servidores com ligações estreitas com os acusados nas várias fases da Lava Jato, devem continuar fazendo o trabalho que até agora tem denunciado a chagásica situação política do Brasil. O povo brasileiro deve envergonhar-se das atitudes que até agora tem tomado, inclusive da indignação seletiva, e apoiar o judiciário, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal na atual conjuntura para que algum dia a moralidade pública e os prejuízos ao erário e ao próprio povo sejam restituídos e o Congresso Nacional torne-se motivo de orgulho e agente do desenvolvimento nacional.
Mas se não votar nos envolvidos na Lava Jato, já nas próximas eleições, será um avanço – ilusória esperança.