PALMEIRA DOS ÍNDIOS

Incra obtém posse de área e concluirá titulação de território quilombola Tabacaria

Publicado em 16/09/2025 às 08:14
Reproduçâo

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) obteve a posse de um imóvel rural que permitirá à autarquia concluir a regularização fundiária do território quilombola Tabacaria, localizado no município de Palmeira dos Índios. No dia 11 de setembro de 2025, por ordem da Justiça Federal, o Incra foi imitido na posse dessa área, que, conforme o desejo das famílias, será destinada à construção de casas.


O ato de imissão na posse foi consumado na sexta (12), com a ida de oficiais de Justiça à área, acompanhados de gestores e técnicos do Incra e representantes da Associação de Desenvolvimento do Quilombo Tabacaria. Os próprios comunitários instalaram cercas e materializaram os novos limites do território quilombola.


O superintendente do Incra Alagoas, Júnior Rodrigues, esteve no local e assinou o mandado de cumprimento de carta precatória levado pelos oficiais de Justiça, que, elaboraram o auto de imissão de posse. Esses atos puseram fim a uma disputa iniciada em 2014 e cujo desfecho consolidará Tabacaria como o primeiro território quilombola de Alagoas a ser totalmente titulado.


Em 2016, o Incra entregou às famílias quilombolas de Tabacaria o título referente a outros dois imóveis rurais que compõem o território. Restava apenas um imóvel a ser adicionado. Com a posse assegurada, o Incra agora irá emitir um novo título definitivo de domínio, agrupando esses três imóveis, que, juntos, perfazem 410 hectares. O documento beneficiará 180 famílias.


Júnior Rodrigues destaca o empenho dos técnicos do Incra e dos comunitários e o cumprimento da ordem judicial. “É um avanço importantíssimo. É uma luta de muitos anos. Agora, de forma ordeira e pacífica, é garantida essa área para a comunidade. É um dia de muita alegria, de uma vitória que não foi rápida, mas o povo quilombola permaneceu firme e persistente, e o resultado chegou, com o apoio do Incra”, enfatiza o superintendente.


A imissão na posse pelo Incra é o desdobramento de uma ação judicial transitada em julgado em 2017.

Habitação


Após a entrega do novo título, os planos para o território quilombola são a operacionalização do Crédito Instalação na modalidade Habitacional. Essa é uma linha de financiamento do Incra que destina até R$ 75 mil, por família, para a construção de casas e prevê desconto de 96% para o pagamento do saldo devedor, se efetuado até a data de vencimento.



Dia histórico


O presidente da Associação de Desenvolvimento do Quilombo Tabacaria, Elson Paulino, se emocionou ao discursar para os comunitários. Sua família tem um antigo vínculo com essas terras e forte sentimento de pertencimento e ancestralidade. Seu pai, Gerson Paulino, de 80 anos, é uma rica fonte histórica do grupo que, como mestre de reisado, também contribui para a identidade cultural de Tabacaria.


Para a chefe da Divisão de Territórios Quilombolas do Incra/AL, Angela Gregório, também foi uma ocasião especial. Em 2023, pela Universidade de Brasília (UnB), concluiu a graduação em antropologia com um trabalho final sobre a área remanescente de quilombo Tabacaria. Na época, fazia parte da equipe da Divisão de Governança da Terra. Agora, acompanhou a imissão na posse como chefe da nova divisão criada pelo Incra, em 2024, com o objetivo de dar celeridade aos processos de regularização fundiária quilombola.


A conclusão do processo de regularização fundiária do território Tabacaria remonta não apenas a uma longa jornada de trabalho do Estado brasileiro, mas à história de Alagoas e dos quilombolas, conforme trecho do livro “Comunidade Quilombola Povoado Tabacaria”, publicado em 2015 pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead/MDA): “Nos séculos 16 e 17, os quilombos que se formaram nessa região eram todos chamados de ‘Mocambos de Palmares’, e sofreram intensa perseguição pelos colonizadores contra os quais resistiram por muito tempo. Um dos símbolos dessa luta é Zumbi dos Palmares. Os quilombolas de Tabacaria podem ser considerados descendentes diretos desses mocambos palmarinos, sendo ligados, portanto, a uma história de resistência que já ultrapassa 300 anos”.