Território Xucuru-Kariri: discursos em choque reacendem disputa no município
A polêmica em torno do território indígena Xucuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, voltou a ganhar força nos últimos dias, com declarações públicas que expõem a distância entre ocupantes, lideranças indígenas e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI). O embate, que já atravessa décadas, entrou em nova fase marcada por vídeos, documentos e manifestações jurídicas.
Tanawi: território já está consolidado
Em pronunciamento nas redes sociais, a liderança Tanawi Xucuru Kariri reforçou que a discussão sobre demarcação é uma página virada. Segundo ele, o território já está demarcado e assegurado, não cabendo mais questionamentos judiciais, nem mesmo à luz da tese do marco temporal.
Tanawi explicou que a atuação da FUNAI neste momento está voltada para o levantamento fundiário — etapa preparatória para a homologação definitiva e, em seguida, a desintrusão. Ele também destacou que as indenizações dos ocupantes serão realizadas de forma escalonada, com a primeira prevista para dezembro de 2025.
“O processo é legal e legítimo. É preciso buscar informação correta, porque não se trata mais de uma disputa de demarcação, mas de efetivação do que já foi reconhecido”, afirmou.
Adeilson Bezerra: questionamento e estratégia jurídica
Do outro lado, o advogado Adeilson Bezerra, representante de pequenos e médios produtores, manteve um discurso crítico. Em vídeo recente, informou ter recebido, por meio da Lei de Acesso à Informação, toda a documentação do processo, incluindo o mapa completo da área.
Bezerra afirmou que já articula, com uma comissão formada por ocupantes e advogados, medidas jurídicas para tentar reverter a situação na Justiça. Apesar disso, orientou os proprietários a receberem os técnicos da FUNAI com cordialidade, reconhecendo que cumprem decisão judicial.
“Este é mais um procedimento previsto na legislação, mas acreditamos que ainda é possível reverter. Nossa luta agora será no campo jurídico”, disse o advogado.
FUNAI: processo oficial e transparente
Em meio às versões divergentes, a FUNAI reafirmou a legitimidade das ações. O coordenador regional do órgão destacou, em Brasília, que todo o trâmite é oficial, respaldado por publicação no Diário Oficial da União, e rechaçou qualquer possibilidade de se tratar de “fake news”.
Para a Fundação, a atual etapa representa a consolidação de um processo histórico, que busca pacificar a região por meio de indenizações e retirada gradual dos ocupantes, garantindo segurança jurídica tanto para indígenas quanto para proprietários.
Conflito em aberto
O cenário mostra que, apesar dos avanços formais, a disputa está longe de se encerrar. Enquanto a comunidade indígena trata a demarcação como fato consumado, ocupantes e representantes jurídicos se movimentam para manter viva a contestação. Entre a promessa de indenizações e a resistência judicial, o território Xucuru-Kariri segue como palco de uma das mais emblemáticas batalhas fundiárias de Alagoas.