Hoje na história: Arnon, o pai de Collor e o caso do tiro no Senado
Relembre um capítulo polêmico da história política brasileira

Em 4 de dezembro de 1963, o Senado Federal foi palco de um dos episódios mais controversos da política brasileira. O então senador Arnon de Mello, pai do ex-presidente Fernando Collor de Mello, disparou três tiros no plenário, supostamente em legítima defesa, contra o também senador Silvestre Péricles, seu inimigo político. Contudo, os disparos acabaram matando acidentalmente outro parlamentar, José Kairala, desencadeando uma série de eventos que marcaram a história do país.
Arnon foi preso logo após o crime, permanecendo detido por quase sete meses em instalações militares de Brasília. Durante esse período, caravanas de Alagoas visitaram o político, enquanto aliados publicavam notas de apoio em jornais, retratando-o como vítima das constantes ameaças de Péricles.
A Defesa e o Julgamento
A defesa de Arnon alegou que os tiros foram um ato de legítima defesa, justificando que o senador se sentia perseguido e ameaçado por Silvestre Péricles. Segundo os advogados, Péricles utilizava a imprensa alagoana e discursos no Senado para atacar Arnon, criando um ambiente hostil e perigoso. Eles argumentaram que qualquer "homem comum" agiria da mesma forma sob tais circunstâncias.
Apesar das acusações iniciais, Arnon conseguiu evitar o Tribunal do Júri após recursos apresentados por seus advogados. Em junho de 1964, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal aceitou a tese de legítima defesa, absolvendo-o por unanimidade. Para a Justiça, o ato não foi considerado um crime doloso contra a vida, mas um "fato lícito".
A repercussão no Senado
Após ser absolvido, Arnon de Mello retornou ao Senado e completou seu mandato. Um processo para cassação de mandato foi instaurado contra ele e Silvestre Péricles, mas a maioria dos senadores rejeitou a medida. Ambos continuaram suas trajetórias políticas, com Arnon sendo exaltado por aliados como "um dos maiores filhos de Alagoas" e "um homem íntegro".
Uma história marcada por conflitos
O episódio foi o ápice de uma rivalidade política que começou em 1950, quando Arnon derrotou o candidato apoiado por Péricles na disputa pelo governo de Alagoas. Desde então, os ataques entre ambos foram uma constante, culminando no fatídico episódio de 1963.
O caso de Arnon de Mello permanece um marco histórico, não apenas pela violência no plenário do Senado, mas também pela forma como questões de poder e rivalidade pessoal podem moldar a política nacional.
Legado polêmico
O processo número 967, que detalha o caso em 776 páginas, está preservado como documento histórico no Tribunal de Justiça do Distrito Federal. Ele reflete um capítulo emblemático e polêmico da política brasileira, evidenciando os desafios de um sistema político muitas vezes marcado por rivalidades intensas e disputas pessoais.