Itaipu fecha 2024 com saldo de US$ 680 milhões, em meio à tensão entre Brasil e Paraguai

Itaipu Binacional, administrada pelo Brasil e pelo Paraguai, fechou 2024 com saldo positivo de US$ 680,3 milhões (cerca de R$ 3,97 bilhões) na Conta de Exploração, após a diferença entre receitas e custos associados à geração de energia.
Os dados fazem parte das Demonstrações Contábeis Anuais, exercício de 2024, que foram analisadas e aprovadas nesta quinta-feira (10) pelo Conselho de Administração, em reunião extraordinária.
O resultado considera despesas como a operação e manutenção da usina, administração, pagamento de royalties e investimentos em ações socioambientais. A empresa também registrou um resultado contábil positivo de US$ 443 milhões no período.
As Demonstrações Contábeis aprovadas pelo conselho incluem o aporte de US$ 301 milhões (R$ 1,8 bilhão) na Conta de Comercialização de Itaipu, administrada pela Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), valor que permitiu a manutenção da tarifa de repasse da usina nos valores atuais, evitando aumentos na conta de luz.
Esse valor foi destinado a ações de responsabilidade socioambiental em 2024, que receberam US$ 540,3 milhões somente no lado brasileiro e um total de US$ 871,9 milhões, considerando as duas margens.
A empresa informou que os valores remanescentes viabilizaram investimentos em ações como a recuperação de nascentes e de transição energética do Brasil.
Os dados foram compartilhados em momento delicado para as relações diplomáticas entre Paraguai e o Brasil, após a divulgação na impresa, na semana passada, sobre suposta espionagem por parte do governo brasileiro de informações sobre a parte de Itaipu que é administrada pelo Paraguai.
O portal UOL publicou reportagem sobre ataques hackers contra sistemas da presidência e do Congresso paraguaio por parte de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a fim de obter informações que auxiliariam na negociação do Anexo C do Tratado de Itaipu.
O documento rege o sistema financeiro que baseia os pagamentos pela energia da Usina Hidrelétrica de Itaipu e os dois governos assinariam um novo acordo em 30 de maio para substituir o texto.
Os depoimentos dos agentes foram coletados durante investigações da Polícia Federal acerca do uso indevido da Abin pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (2019–2022).
Em discurso sobre o tema, o presidente paraguaio, Santiago Peña, relembrou as dores da Guerra da Tríplice Aliança, em que o país viu a maior parte de sua população masculina ser morta pelas forças conjuntas de Argentina, Brasil e Uruguai.
Em 1º de abril, o Paraguai chamou para consultas o embaixador em Brasília, Juan Ángel Delgadillo, e suspendeu unilateralmente as negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu até que o Brasil forneça explicações detalhadas sobre a suposta operação de inteligência.
o governo de Peña também chamou o embaixador brasileiro em Assunção, José Antonio Marcondes, e enviou uma nota oficial exigindo esclarecimentos sobre o ocorrido.
Em resposta à crise, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil defendeu que a campanha de espionagem foi feita durante o governo anterior e encerrada assim que a gestão atual soube de sua existência, após Luiz Fernando Corrêa assumir o comando da agência.