INSS: advogada apontada pela PF como operadora de propinas fez 33 viagens em 1 ano

A advogada Cecília Rodrigues Mota é citada na Operação Sem Desconto - investigação das fraudes do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) - como suposta operadora financeira do esquema que causou um prejuízo de R$ 6,3 bilhões a milhares de aposentados.
Até a publicação deste texto, a reportagem do Estadão havia buscado contato com a advogada, mas sem sucesso. O espaço segue aberto
Segundo a Polícia Federal, escritórios de advocacia e empresas ligadas a Cecília receberam R$ 14 milhões de associações investigadas por golpes em aposentados e repassaram recursos a servidores do INSS suspeitos de corrupção.
A advogada teria intermediado transferências a André Paulo Félix Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, e a Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-chefe da Procuradoria Federal Especializada do INSS.
A Polícia Federal afirma que ela "desempenha um papel central na teia financeira que sustenta o esquema de descontos indevidos sobre os benefícios de aposentados".
Além das transações envolvendo serviços do alto escalão do INSS, o escritório da advogada movimentou recursos incompatíveis com seu faturamento mensal, segundo a PF.
"Observa-se que o seu comportamento transacional é de entrada e saída de recursos de maneira rápida, o que demonstra pressa na evasão dos recursos recebidos, deixando saldo irrisório na conta, se comparado com a movimentação financeira transacionada no período", aponta a Polícia Federal.
Cecília Rodrigues Mota também dirigiu duas entidades investigadas pela PF, a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN) e a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB), entre março de 2017 e fevereiro de 2020.
Outro dado chamou a atenção da Polícia Federal: a advogada fez 33 viagens entre janeiro e novembro de 2024. Em menos de um ano, ela esteve em destinos como Dubai, Paris e Lisboa.
A PF afirma que as viagens tiveram duração curta, algumas de apenas um dia, e movimentaram muitas bagagens, "indicando transporte de valores físicos ou documentos estratégicos".
Além disso, segundo os investigadores, as passagens eram compradas com antecedência mínima ou até mesmo no momento do embarque, "sugerindo planejamento mínimo para evitar rastreamento". Quando voltou de Dubai, por exemplo, a advogada despachou 31 malas.
Os investigadores identificaram ainda pagamentos a lojas de joias, a marcas de luxo e a hotéis cinco estrelas, como Tiffany, Hugo Boss, Prada e Fasano.
COM A PALAVRA, A DEFESA
A reportagem do Estadão tentou contato com a advogada Cecília Rodrigues Mota pelas redes sociais e busca localizar a defesa, o que não havia ocorrido até a publicação deste texto. O espaço está aberto para manifestação ([email protected]; [email protected]).