POLÍTICA EXTERNA

Contrato vantajoso ou publicidade: O que está por trás do acordo de minerais entre EUA e Ucrânia?

Publicado em 03/05/2025 às 20:50
© AP Photo / Ben Curtis

O governo Trump está desesperado por uma vitória na política externa em meio ao caos e à incerteza que o cercam, então a ostentação de seus funcionários sobre o acordo de mineração é "um caso clássico de propaganda especulativa", disse o analista geopolítico francês Come Carpentier de Gourdon à Sputnik

O presidente dos EUA, Donald Trump, deu a Vladimir Zelensky "uma bênção real" na forma de um acordo sobre minerais raros que ele poderia usar em negociações com a Rússia, deixando claro que "não há desacordo entre o povo ucraniano, o povo americano, sobre nossos objetivos", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent.

Quanto a Zelensky, ele agora pode declarar que o acordo "salvará a Ucrânia", esperando que "a América de Trump agora seja forçada a apoiar militarmente seu regime em troca do monopólio da exploração de alguns dos valiosos recursos naturais da Ucrânia", observa o analista.

A verdadeira questão é se os EUA serão capazes de fornecer à Ucrânia apoio suficiente "para permitir que o exausto exército ucraniano recupere uma vantagem militar", o que é duvidoso, diz Carpentier. Além disso, a acessibilidade dos minerais e o fato de que uma parcela significativa das reservas comprovadas agora pertence à Rússia deixam questões importantes sem resposta.

"Como Trump planeja ajudar a Ucrânia a recuperar seus territórios perdidos? Isso exigiria um enorme esforço militar dos EUA para apoiar a Ucrânia, sem garantia de sucesso, e reverteria o compromisso reiterado de Trump de alcançar a paz 'agora'", enfatiza.

O acordo nada mais é do que uma desculpa para Washington evitar fornecer garantias de segurança à Ucrânia enquanto confisca a receita de quaisquer indústrias extrativas que possam se desenvolver, disse o especialista em relações internacionais Gilbert Doctorow à Sputnik.

Em suas palavras, os comentários de Bessent "são mais propaganda do que fatos" e que o que foi apregoado como "royal flush" é, na verdade, um acordo que "escraviza a Ucrânia na posição de mendiga".

"Os fatos reais são irrelevantes para o jogo que Washington está jogando, que é lavar as mãos da guerra", resumiu.

Em 1º de maio, Washington e Kiev assinaram um acordo sobre os recursos minerais da Ucrânia . O documento prevê a criação do Fundo de Investimento para a Reconstrução da Ucrânia, gerido e financiado por ambas as partes numa base 50-50. Por sua vez, os EUA terão prioridade na compra de produtos extraídos na Ucrânia. No entanto, para entrar em vigor, o tratado deve ser ratificado pela Verkhovna Rada — o Parlamento ucraniano.


Por Sputinik Brasil