Análise: ataques com armas ocidentais elevam risco de mais envolvimento da OTAN no conflito ucraniano

Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista afirma que há uma escalada no número de ataques ucranianos à porção europeia da Rússia e parte do arsenal utilizado é de fabricação ocidental, de países da OTAN.
Desde o dia 21 de maio, a Ucrânia tem multiplicado o número de ataques com drones e foguetes majoritariamente de fabricação ocidental contra alvos civis no território russo, levando Moscou a responder com ataques às infraestruturas militares ucranianas.
Em relatório recente, o Ministério da Defesa russo afirmou que as Forças Armadas russas continuarão efetuando ataques maciços e combinados "em resposta a quaisquer ataques terroristas e provocações do regime de Kiev".
"Os ataques serão realizados exclusivamente contra instalações militares e empresas do complexo militar-industrial da Ucrânia", diz o comunicado.
À Sputnik Brasil, Tito Lívio Barcellos, geógrafo, mestre em estudos estratégicos de defesa e segurança e pesquisador do Centro de Investigação sobre Rússia, Eurásia e Espaço Pós-Soviético (CIRE), avalia que o aumento no número de ataques ucranianos com drones e foguetes de fabricação ocidental aumenta o risco de envolvimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no conflito.
"O risco existe. Na verdade, desde o momento que o ex-presidente [dos EUA] Joe Biden, em dezembro de 2024, um mês antes da posse de [Donald] Trump, retira as restrições de alcance, de uso, de emprego das armas, dos mísseis norte-americanos na Ucrânia, você tem uma escalada, um aumento de disparos contra a Rússia europeia. É importante que se diga que parte desse arsenal é de fabricação ocidental, sim", afirma.
Ele destaca que a Ucrânia foi um dos países mais industrializados da antiga União Soviética (URSS) e manteve seu complexo técnico industrial até os dias atuais. Logo, avalia o especialista, ainda que a Ucrânia não possa mais contar com o apoio logístico da Rússia e peças e componentes de origem russa, ela conseguiu, de certa maneira, "substituir alguns componentes russos por análogos ocidentais".
"Então ainda ela consegue dispor de mísseis balísticos de médio e curto alcance, assim como drones que são baratos de produzir, e ainda consegue engendrar alguns ataques contra o território russo. Esse é um dos motivos de por que o complexo industrial ucraniano ainda é visado pela artilharia russa", explica Barcellos.
Ele acrescenta que além de atingir as unidades produtivas ucranianas, as forças russas terão de neutralizar o fluxo que chega por meio de vias terrestres e marítimas da fronteira da Ucrânia com países da OTAN.
"E é importante dizer que existe agora um esforço da Europa, dos países europeus, em descentralizar as suas capacidades produtivas dentro do território ucraniano, visto que houve, sim, um volume menor da ajuda militar americana. Ela não cessou completamente, mas houve uma diminuição desse fluxo, o que significa que os países europeus é que vão ter a maior responsabilidade de manter o esforço de guerra ucraniano."
Entretanto, Barcellos frisa que "os países europeus também sofrem com a diminuição dos estoques", e aponta que a mídia ocidental já observa que a Ucrânia pode não conseguir manter os seus arsenais.
"E não só apenas de drones e mísseis, mas estou falando de estoques gerais de armamentos para os próximos seis meses, para o próximo semestre, ao mesmo tempo que os estoques russos vão sendo repostos com uma grande velocidade em pouco tempo. Então isso significa que os europeus agora vão ter que tomar as rédias do processo, e ao mesmo tempo recuperar essa capacidade produtiva que a Ucrânia está pouco a pouco perdendo."
Por Sputinik Brasil