ANÁLISE

Figura de 'empresário truculento de Trump' é ineficaz contra Putin, nota analista (VÍDEOS)

Publicado em 28/05/2025 às 17:26
© AP Photo / Evan Vucci

Em entrevista à Sputnik Brasil, o historiador Rodrigo Ianhez crava que a estratégia do presidente norte-americano de criticar ações russas no conflito ucraniano enquanto ignora os ataques de Kiev à Rússia é uma escolha deliberada para elevar a pressão contra Moscou, que, assim como as sanções, não surtirá resultado.

O presidente dos EUA, Donald Trump, não está sendo bem informado sobre o que realmente está acontecendo no confronto russo-ucraniano. É o que afirmou nesta quarta-feira (28) o assessor da presidência russa, Yuri Ushakov, ao comentar as declarações do líder norte-americano sobre a situação na Ucrânia, com foco apenas nos ataques russos.

"Trump só sabe quais medidas retaliatórias estamos tomando. E ele não entende completamente que estamos atingindo exclusivamente a infraestrutura militar ou as instalações do complexo militar-industrial", afirmou Ushakov.

Em entrevista à Sputnik Brasil, o historiador e especialista em história da União Soviética (URSS), Rodrigo Ianhez, afirma que este estilo retórico é também uma tática do presidente norte-americano

"É parte da tentativa de barganha que o Trump está tentando realizar e parte da estratégia que ele utiliza em vários momentos, de se mostrar uma figura durona. [...] Nesse momento, ele está tentando colocar pressão sobre os russos, fazendo uma série de ameaças, mas nada muito diferente do que ele já não vem ameaçando nos últimos tempos."

Para o historiador, a aposta de Trump, com sua tática de negociador empresarial truculento se mostra ineficaz frente à Rússia de Vladimir Putin. Desde 2015 os Estados Unidos vêm aumentando a pressão e as sanções contra a Rússia "sem conseguir nenhum resultado".

"A não ser uma escalada cada vez mais perigosa que pode se desenvolver num conflito de proporções globais, inclusive nuclear."

"E é esse o momento que me parece que os atores têm sido muito irresponsáveis ao ignorar o perigo imenso que nós estamos vivendo, sem dúvida o maior desde o fim da Guerra Fria, de uma escalada para uma guerra de proporções mundiais. Não me parece uma tática muito efetiva."

Ocidente tenta criar narrativa de 'bem x mal'

O historiador avalia que essa ignorância premeditada por parte de Donald Trump, outros líderes europeus e da grande mídia de não reconhecerem os ataques ucranianos, fazem parte de uma grande guerra de narrativas empregada pelo Ocidente na qual a primeira vítima é a verdade.

Desde o primeiro dia do conflito é observada uma manipulação muito grande da grande mídia, com a apresentação parcial dos fatos, explica Ianhez. "Não é nenhuma novidade em relação ao que nós vemos desde 2014."

"O que a mídia fala sobre a Rússia, muitas vezes, não parece coincidir com a realidade que as pessoas que vivem na Rússia observam todos os dias."

Tanto o lado russo é apresentado em luzes que muito claramente ressoam uma russofobia, um preconceito em relação à Rússia, diz o especialista, quanto se observa uma tentativa de reformar o entendimento do que é a Ucrânia, que "até 2022 não era visto como um país europeu".

Segundo o especialista, nessa disputa de narrativas, para justificar a manutenção desse conflito, "é preciso apresentá-lo como algo sem nenhuma nuance, como algo preto no branco, como uma invasão injustificada, sem nenhuma dessas raízes históricas".

Pelo outro lado, no entanto, a Rússia tem conseguido alcançar os países do Sul Global e "furar um pouco essa barreira de isolamento" a qual a maioria global foi submetida.

Dessa forma, hoje se desenha uma "nova Guerra Fria", afirma o historiador. Nela, o bloco ocidental, liderado por EUA e UE, se apresenta como "o mundo livre, de democracias liberais" e tenta impor ao outro bloco, liderado por Rússia e China, a imagem de "países autocráticos", da mesma forma que a União Soviética foi descrita pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, como um "império do mal".

"E o elemento ideológico na Guerra Fria é central. É central a tentativa de apresentar uma luta do bem e do mal. [...] Então, se está utilizando toda essa memória coletiva que a gente tem da Rússia como um império maligno e tentando requentar essa narrativa ideológica para tentar angariar o máximo de apoio."

Felizmente, a tática ocidental não tem sido bem-sucedida, já que essa dicotomia narrativa não tem mais o apelado que um dia teve, avalia Ianhez.

"E mesmo naquela época, a hipocrisia inerente a essa narrativa já era bastante visível através das práticas coloniais que o mundo ocidental impunha no Terceiro Mundo."


Por Sputinik Brasil