CONFLITO UCRANIANO

'Rússia teria que responder': como envio de mísseis Taurus a Kiev pode impactar negociações de paz?

Publicado em 29/05/2025 às 19:41
© AP Photo / Yves Herman

Enquanto a Rússia sinaliza para uma nova rodada de negociações para um acordo de paz com a Ucrânia, o Ocidente acabou com as restrições nos envios de armamentos a Kiev. Para analista, contexto pode prejudicar negociações de paz.

Mesmo após o chanceler alemão Friedrich Merz afirmar em entrevista a um canal de TV alemão a queda da medida e o fornecimento de mísseis de cruzeiro Taurus de longo alcance para a Ucrânia aparecer como uma possibilidade, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, confirmou na quarta-feira (28) que a segunda rodada de negociações entre Moscou e Kiev acontecerá em Istambul na próxima segunda-feira (2).

Entretanto, ao permitir que a Ucrânia dispare mísseis Taurus de fabricação alemã contra alvos dentro da Rússia, a Alemanha pode se chancelar como parte do conflito. Além disso, o treinamento de militares ucranianos para usar o armamento foi mencionado por Merz.

Da perspectiva do campo de batalha e do ponto de vista estratégico, segundo Fabricio Avila, doutor em ciência política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e presidente do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), "os mísseis ocidentais podem ser usados contra instalações sensíveis de veículos terrestres e aéreos que possuem armas nucleares".

Neste molde, "a Rússia teria que responder em ambos os cenários contra os ucranianos e prejudicaria as negociações de paz", acrescenta.

O especialista ressalta, também, que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) já treina militares ucranianos.

Enquanto o chanceler alemão afirmou que o treinamento de militares ucranianos poderia levar vários meses, Ávila explicou que o tempo é usado como arma de guerra.

"Os ucranianos podem ainda combater por mais um tempo para garantir o uso desses mísseis para ter mais garantias na hora de negociar com a Rússia".

Com a relação à defesa russa, o analista ressaltou que Moscou pode monitorar rotas prévias de lançamento desses mísseis e oferecer uma rede de defesa do ponto até o objetivo do míssil. Além disso, "os russos possuem vários sistemas móveis de guerra eletrônica, como o Krasukha, que pode causar uma interferência de área e causar o mal funcionamento do sistema inercial do míssil Taurus", complementa.

Já em relação ao passo dado pela Alemanha no contexto bélico, Ávila analisa como uma justificativa dada pelo atual governo alemão que quer fortalecer suas forças armadas.

Entretanto, os desdobramentos podem ser perigosos: desde uma "percepção russa de um ataque do Ocidente contra a Rússia que pode gerar, em longo prazo, um conflito generalizado" à possibilidade do rearmamento alemão "reacender rivalidades como a postura da França dentro do conflito e do continente, que talvez não perceba como de bom tom essa iniciativa", finaliza.


Por Sputinik Brasil