Delegado confirma oitivas de PMs e promete reprodução simulada para esclarecer morte de Gabriel Lincoln

Um mês após a morte do adolescente Gabriel Lincoln Pereira da Silva, de 16 anos, durante uma perseguição policial em Palmeira dos Índios, Agreste de Alagoas, a Polícia Civil confirmou que ouviu os policiais militares envolvidos na ocorrência e deverá solicitar uma reprodução simulada para dar seguimento ao inquérito.
Em entrevista concedida nesta terça-feira (3), o delegado Sidney Tenório informou que a próxima etapa da investigação será a solicitação formal ao Instituto de Criminalística (IC) para a realização da simulação do momento em que Gabriel foi baleado. O procedimento, segundo ele, foi requerido pela família da vítima e deve auxiliar na elucidação de pontos ainda controversos no caso.
“Houve um pedido por parte da família para a reprodução simulada. Temos algumas questões a esclarecer, e provavelmente essa será a próxima etapa após as oitivas. Vamos enviar ofício ao IC para que uma data seja marcada com brevidade”, afirmou o delegado.
Versões contraditórias
De acordo com a versão apresentada pelos policiais militares, Gabriel estaria realizando manobras perigosas com uma motocicleta, inclusive empinando o veículo próximo a um semáforo. Os agentes alegam que o adolescente teria efetuado um disparo de arma de fogo contra a guarnição, o que teria motivado o revide por parte de um dos policiais. Um único disparo atingiu Gabriel pelas costas, atravessando o coração. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu.
A família, no entanto, contesta essa versão. Segundo relatos de parentes, o jovem havia saído de casa para buscar alimentos para a lanchonete dos pais.
Assustado com a aproximação da viatura, teria acelerado a motocicleta. Para a família, a abordagem foi violenta e desproporcional.
“Estamos diante de uma situação complexa. A versão dos policiais aponta uma reação a um disparo. Já a família afirma que o jovem não estava armado e que houve abuso por parte da guarnição”, explicou Tenório.
Provas e perícias
A investigação já conta com vídeos de câmeras de segurança e o depoimento de diversas testemunhas que estavam na rua no momento da abordagem. Segundo a Polícia Civil, as imagens e os relatos serão cruzados com os depoimentos dos policiais e os resultados das perícias para entender melhor a dinâmica do fato.
A arma que teria sido usada pelo adolescente também está sob análise. O delegado alertou, no entanto, para possíveis limitações no exame residuográfico, já que o corpo passou por lavagens hospitalares e funerárias antes de ser encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML), o que pode comprometer a detecção de resíduos de pólvora.
“Queremos saber: havia mesmo uma arma? Foram feitos dois disparos? As testemunhas ouviram dois tiros? Essas são questões fundamentais, que pretendemos esclarecer com a reprodução simulada”, explicou o delegado, acrescentando que os policiais estão sendo ouvidos, por enquanto, na condição de declarantes.
Pressão e acompanhamento
Desde o ocorrido, amigos e familiares de Gabriel Lincoln têm organizado protestos e cobrado providências das autoridades. O caso também está sob análise do Ministério Público de Alagoas, que solicitou informações sobre a atuação dos policiais. Já o Tribunal de Justiça determinou celeridade nas investigações.
Os PMs envolvidos foram afastados temporariamente das atividades ostensivas enquanto o inquérito segue em andamento.
O delegado Sidney Tenório, que atua junto com o delegado João Paulo Canuto na condução do caso, reforçou o compromisso da Polícia Civil com a isenção nas apurações.
“Nunca queremos que uma ocorrência termine assim, com a perda de uma vida. Mas, diante do fato, é nosso dever buscar respostas. O que posso garantir é que estamos conduzindo o inquérito com toda a seriedade e imparcialidade”, concluiu.