FILME
Produtora mato-grossense grava filme inspirado em poemas de Manoel de Barros
Escrito e dirigido por Daniel Leite Almeida, “O Menino Que Carregava Água na Peneira” é o primeiro longa de ficção do Vale do Araguaia. O filme promove um intercâmbio inédito entre artistas de Mato Grosso e realizadores do interior baiano.
Por Afonso Ribas / Comunicação Umbuzeiro Filmes
Publicado em 05/06/2025 às 09:19

A Araraguaia Produções, produtora de cinema de Barra do Garças (MT), concluiu no último domingo (1) a primeira etapa de gravações do filme O Menino Que Carregava Água na Peneira, escrito e dirigido pelo cineasta Daniel Leite Almeida. Ambientado entre o sertão e o cerrado, a produção será distribuída pela Umbuzeiro Filmes e marca um intercâmbio inédito entre artistas e realizadores da Bahia e de Mato Grosso, onde acontecerão as próximas filmagens. Além disso, entra para a história do setor audiovisual brasileiro como o primeiro longa de ficção do Vale do Araguaia. Livremente inspirado na poesia de Manoel de Barros, a obra apresenta um menino da zona rural que sonha em ser escritor. Ao descobrir sua vocação, embarca em uma jornada sensível e cheia de aventuras pelo fantástico País das Macaúbas para encontrar algo fundamental: um nome que represente quem ele é. O longa dá continuidade ao universo cinematográfico iniciado em Alice dos Anjos, vencedor de seis Candangos no Festival de Brasília e finalista do 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Esse é o filme que deu origem à trilogia homônima da qual também faz parte Alice Lembra, gravado entre novembro e dezembro do ano passado em Vitória da Conquista (BA). Por isso, o município baiano foi o cenário das primeiras gravações de O Menino Que Carregava Água na Peneira, segunda parte da saga. Geração de oportunidades Moradora de Barra do Garças (MT), a atriz Juliane Coelho foi uma das pessoas que foram à Bahia para gravar o filme. Com cerca de oito anos de carreira no teatro, essa é a primeira vez que atua em um longa-metragem. Na história, interpreta a vilã Cristalina. “O fato de você sair da sua cidade já traz uma expectativa grande de vivência. Pra mim, enquanto atriz, é muito importante. Ter um longa-metragem na carreira faz toda a diferença. É algo que cria mais oportunidades pra gente”, conta. Aos 16 anos, Gustavo Mendonça dá vida a Olímpio, filho de Cristalina e mais um antagonista da trama. Natural de Cuiabá (MT), onde mora com a família, ele também atua como modelo e influencer, e já participou de outros filmes. “Mas sair de onde eu moro pra vir pra Bahia gravar um filme é uma experiência nova, uma oportunidade de conhecer outro lugar, outras pessoas. É uma troca de cultura”, revela. Sua mãe, Janaína Mendonça, que o acompanhou na viagem e nas gravações, se sente orgulhosa. “É um crescimento pessoal e profissional muito grande para o Gustavo. Ele está convivendo com outras pessoas, com outra cultura, com um profissionalismo diferente. Tudo isso acaba enriquecendo muito a trajetória dele”, enfatiza. |
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Outra mãe presente no set foi Izaura Pinheiro, que acompanha o ator Luiz Di Mônaco. Aos 12 anos, ele interpreta Bernardo, um dos personagens centrais da história. As artes cênicas são uma verdadeira paixão da família, que tem origem mineira, mas reside no Vale do Araguaia. Seu sobrenome, inclusive, é uma homenagem ao tio que o inspirou a fazer teatro. “Eu e meu marido crescemos indo ao teatro ver o tio dele em cena, então a gente traz isso para as crianças até hoje. O Luiz bebeu dessa fonte, dessa história. Esse é o primeiro projeto profissional no qual ele atua e eu já percebo um amadurecimento artístico muito grande. Acho que, pra ele começar a vida artística, vai ser um pontapé muito bom”, relata Izaura. E Luiz completa: “Eu espero começar uma carreira com o cinema. Minha família sempre tentou e a gente finalmente está conseguindo”. Para o ator que interpreta o Menino, João Pedro Costa, protagonista da história e principal parceiro de Luiz em cena, a experiência de conviver e atuar com artistas de outro estado também tem sido enriquecedora. “É uma mistura de sotaques, com todo mundo junto. Conheci tanta gente de outros lugares e fiquei surpreso em conhecer novas culturas”, afirma. Intercâmbio de saberes O Menino Que Carregava Água na Peneira conecta duas cidades do interior de dois estados e regiões completamente diferentes: Mato Grosso, no Centro-Oeste, e Bahia, no Nordeste. Com isso, o filme une profissionais e saberes de dois territórios que, embora distantes geograficamente, compartilham desafios e potências do cinema feito fora dos grandes centros. "Na Bahia, especialmente em Vitória da Conquista, tem-se vivido há alguns anos um processo de aperfeiçoamento do fazer cinematográfico a partir da troca entre profissionais mais experientes com os profissionais locais. Levar isso agora para o Vale do Araguaia, que é uma região muito rica em cultura, é uma possibilidade de contribuir com o meu território, com o lugar onde nasci e cresci. É levar adiante o que eu acredito do cinema enquanto espaço de formação", afirma Daniel Leite Almeida, diretor e roteirista do filme. Formado em Letras pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus do Araguaia, e em Cinema pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), o cineasta ressalta que é muito comum que produções feitas no interior do país recebam profissionais do eixo Rio-São Paulo para conduzir processos de formação e capacitação em audiovisual com realizadores que vivem longe dos grandes centros. E é essa lógica que O Menino Que Carregava Água na Peneira busca romper ao trazer profissionais que também são do interior para atuar como mentores de novos talentos. Dessa forma, quem está por trás das câmeras se beneficia com o intercâmbio promovido pela produção, como a jornalista Nathália Gonçalves, que atua como produtora de elenco do longa. Formada na mesma universidade que Daniel, ela sempre foi apaixonada por cinema e considera essa experiência fundamental para a carreira que deseja construir na área. Por isso, acompanha atentamente o trabalho do diretor no dia a dia do set. “Às vezes tem coisas que não preciso fazer, mas eu quero ver e acompanhar como ele está fazendo. A gente discute, eu dou minha opinião sobre os atores. Eu não estou aqui só pra ser produtora de elenco. Aqui também está sendo uma escola. Quero realmente aprender e levar o que estou aprendendo pra Barra do Garças. O Menino Que Carregava Água na Peneira vai abrir portas para que venham muitas outras produções como essa na nossa região”, afirma. O projeto foi contemplado no Edital nº 03/2023, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT), com recursos do Ministério da Cultura, por meio da Lei Paulo Gustavo. |