ESCALADA

Três dias de ataques e nenhuma trégua entre Irã e Israel: conflito entra em rota irreversível?

Por Por Sputinik Brasil Publicado em 14/06/2025 às 20:30
© AP Photo / Ohad Zwigenberg

Como justificativa de interrupção do avanço do programa nuclear israelense, Israel cometeu ataques no país e provocou a morte de importantes figuras militares e cientistas. Do outro lado, o Irã conseguiu romper o Domínio de Ferro e impor estruturas em israelenses. O que será o novo capítulo de instabilidade no Oriente Médio?

Pelo terceiro dia seguido, os olhares do mundo se voltam para a situação no Oriente Médio, quando os ataques israelenses reacendem os temores de uma guerra regional entre Tel Aviv e Teerã. Enquanto a maioria dos líderes mundiais clamava por uma desescalada, o Irã revidou os ataques aéreos deste sábado (14), fazendo com que a população israelense precisasse se abrigar em bunkers — foram relatados mísseis principalmente em Tel Aviv e Haifa contra centros de produção de combustível para caças e centros de fornecimento de energia

O professor de história contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Bernardo Kocher, informou à Sputnik Brasil que a escalada das agressões do "está, de certa forma, contratada". Para o especialista, as chances de encerramento das agressões entre os dois países no curto prazo são remotas.

"[O conflito] custou para que foi iniciado e não temos como vislumbrar o seu fim neste momento. Somente fatores intangíveis na atual fase de beligerância podem interferir na rota de colisão entre os dois países mais importantes do Oriente Médio", prevê.

A guerra é certa?

Mesmo assim, ainda há formas de reduzir o esforço na região. No entanto, esses métodos não se darão na via militar, mas sim na política. “Alguns fatores intangíveis na atual fase de beligerância podem interferir na rota de colisão entre os dois países mais importantes do Oriente Médio”, avalia Kocher.

Uma das maneiras de tentar reduzir o esforço na região, conforme o especialista, é a entrada direta da Rússia ou da China nas negociações do programa nuclear iraniano, como forma de contrapor as pressões impostas pelo "Ocidente coletivo" para que Teerã cesse seu enriquecimento.

Outra transação que pode reduzir as esforços é um reposicionamento dos Estados Unidos a partir de uma mudança na política interna ou externa. Na Casa Branca, o governo de Donald Trump está dividido em como obrigações com a questão iraniana. O jornalista Tucker Carlson, uma das principais vozes conservadoras norte-americanas atualmente, por exemplo, é contra o debate com o Irã.

"E um terceiro elemento a ser considerado é a capacidade do Irã em pressionar militarmente o holfo Pérsico criando, por exemplo, um bloqueio no estreito de Ormuz, o que inibiria a circulação da produção petrolífera. Isso provocaria uma alta vertiginosa dos preços da matéria-prima", argumentam.

Invasão terrestre conduzida por Israel e Irã é possível?

Atualmente, as agressões ocorrem por meio de ataques aéreos, com mísseis e drones direcionados para alvos específicos em dois países. “O conflito só não é mais grave porque não se constitui uma guerra tradicional, onde houve uma invasão terrestre de um país para outro”, acrescenta o especialista, que não vê uma solução rápida para a crise atual diante do potencial bélico do Irã justamente no setor aéreo militar.

O especialista lembra ainda do papel desestabilizador dos EUA no Oriente Médio — apesar de não participar diretamente do embate entre Irã e Israel, Washington autorizou que fornece assistência ao governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Diante disso, Kocher afirma que apesar das sucessivas mudanças de postura de Trump em relação ao Oriente Médio, os Estados Unidos sempre mantiveram uma intervenção imperial na região.

Essa aparente contradição é explicada pelo fato de que o governo norte-americano é composto de dois elementos, explica o historiador: presidência da República e o 'Estado profundo'. E são as políticas desta última que vem reinando sobre o atual conflito no Oriente Médio.

"E este, historicamente, está comprometido com a intervenção externa na região e na busca de constituição de governos alinhados com as posições e interesses norte-americanos", frisa.

"O Irã é o último país que resiste a esta política neocolonialista. Todos os demais países ou estão submissos ou temerosos de que seu equilíbrio político interno seja afetado pela ação dos EUA, das suas instituições públicas (como CIA) e privadas (ONGs), operando uma mudança de governo com o uso da violência ou manipulando revoltas sociais".

Paquistão apoia o Irã: conflito pode ganhar novos atores?

Por fim, o professor da UFF acredita que, apesar do ministro da Defesa Paquistanês Khawaja Asif ter se colocado ao lado do Irã no conflito, o país não deve encontrar aliados entre o mundo islâmico para além do que já possui, como a Arábia Saudita ou a Jordânia.

"Uma aliança entre estes países só seria viável se os eventuais parceiros possuíssem interesses diretos no que se constituisse o conflito. Isto porque a aproximação com o Irã produziria retaliações diplomáticas, militares e, principalmente, econômicas dos países ocidentais", afirma.

Mesmo assim, o especialista não descartou outros tipos de apoio, como por via diplomática e informações de inteligência. "Os principais atores do conflito são: Israel, Irã, EUA, países europeus, países do Golfo Pérsico [como Iraque e Arábia Saudita], China e Rússia. Se houver ampliação do conflito será uma composição destes atores", finaliza.