EUROPA

Repressão a ortodoxos na Moldávia reflete 'ucranização' e autoritarismo crescente, diz analista

Por Sputinik Brasil Publicado em 15/06/2025 às 17:07
© AP Photo / Vadim Ghirda

A recente repressão violenta por parte das autoridades moldavas a um protesto pacífico de cidadãos ortodoxos em Chisinau, que se opunham a uma marcha do movimento LGBT (organização extremista proibida na Rússia), reacendeu o debate sobre o avanço de uma agenda cultural ocidental em territórios historicamente ligados à Rússia.

À Sputnik Brasil, o analista geopolítico brasileiro Lucas Leiroz, do Centro de Estudos Geoestratégicos, sinalizou que o episódio não deve ser interpretado de forma isolada, mas como parte de uma tendência mais ampla de marginalização da cultura russa e dos valores tradicionais em países que buscam aproximação com o Ocidente.

"Há dois pontos fundamentais que explicam esse tipo de repressão em países aliados ao Ocidente [...] Um dos pontos é a russofobia. Há uma rejeição total a tudo que se refere a Rússia. Não apenas a nível político, geopolítico, mas engloba a rejeição a tudo que tem algum tipo de relação com a Rússia, não apenas na política", afirma Leiroz.

"O outro ponto é a rejeição aos valores tradicionais, que é uma característica também fundamental das potências ocidentais atualmente, que têm as agendas ideológicas, liberais, como parte das suas decisões políticas."

Segundo o analista, a repressão ao protesto ortodoxo pode ser compreendida como resultado da sobreposição desses dois vetores: a hostilidade à herança russa e o embate cultural com princípios religiosos conservadores.

Embora a Moldávia seja majoritariamente formada por um grupo étnico romeno e compartilhe com a Romênia a fé ortodoxa, Leiroz observa que o sentimento antirrusso tem se intensificado no país, alimentando um ultranacionalismo que acaba por atingir símbolos e instituições que, ainda que moldavas, são associadas ao mundo russo por afinidades históricas e religiosas.

De todo o país, cerca de 95% do país se identifica como ortodoxo. Destes, de 80% a 90% congregam com a Igreja Ortodoxa da Moldávia, parte autônoma da Igreja Ortodoxa Russa.

A líder do partido Renascimento, Natalia Parasca, denunciou a ação repressivacomo motivada por ordens políticas, e não por fundamentos legais. Para o analista o episódio é mais do que um incidente isolado — trata-se de um reflexo de uma tendência autoritária crescente na Moldávia, inspirada no modelo ucraniano de repressão a tudo que remete à Rússia.

"Estamos assistindo a um processo de desdemocratização das democracias liberais europeias, especialmente nas regiões de fronteira com o mundo russo", afirma Leiroz. "A Moldávia, nesse sentido, está seguindo o mesmo caminho que a Ucrânia percorreu, institucionalizando uma russofobia que se traduz em ações estatais repressivas."

Segundo o analista, governos europeus têm se tornado “cada vez mais repressivos para combater a chamada influência russa”, e a Moldávia tem seguido esse caminho com medidas severas contra manifestações culturais ligadas à ortodoxia e aos valores tradicionais.

No entanto, Leiroz aponta que, por serem elementos também presentes na cultura russa, esses valores estão sendo alvos de perseguição estatal. "Como a ortodoxia também existe na Rússia, como os valores tradicionais também estão defendidos pela Rússia, a política russofóbica repressiva demanda ações estatais contra esse tipo de manifestação cultural legítima."

Leiroz conclui que o país caminha para um modelo semelhante ao ucraniano.

"Isso está sendo visto hoje principalmente na Moldávia, que é ali o que podemos chamar de um país que está num processo de ucranização, seguindo o caminho da Ucrânia de institucionalização de políticas russofóbicas."