BRICS

Não é multilateralismo que impede desenvolvimento, mas o hegemonismo, diz Dilma à Sputnik

Por Por Sputinik Brasil Publicado em 21/06/2025 às 10:27
© Sputnik / Alexander Vilf

A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff, a convidada de destaque do presidente russo Vladimir Putin no Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF), deu uma entrevista exclusiva à Sputnik debatendo a situação atual da economia mundial e a importância do BRICS e do NDB na cooperação internacional.

Nesta quinta-feira (19), a presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, participou da cerimônia de abertura do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo. A participação de Rousseff se deu após encontro bilateral com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, na quarta-feira (18).

Respondendo à questão sobre a arquitetura econômica mundial que temos atualmente, a presidente do NDB disse que o momento em que vivemos é complexo e marcado por crises e tensões geopolíticas criadas por restrições unilaterais.

"Vivemos em um momento muito complexo devido à ocorrência de crises simultâneas. Em primeiro lugar, temos uma guerra comercial de tarifas, que leva à destruição das cadeias de comércio e mesmo de cadeias produtivas, criando riscos de inflação e diminuição da taxa de crescimento econômico dos países. Em segundo lugar, uma série de tensões geopolíticas produzidas por sanções unilaterais e bloqueios tecnológicos, resultando também em ruptura das atividades produtivas, porque impede o livre comércio, principalmente entre produtos tecnológicos. E, em terceiro lugar, vivemos também desastres naturais contínuos, devido ao problema da crise climática. O resultado é uma situação que gera dois efeitos dramáticos: desconfiança e incerteza. Além disso, vivemos o desequilíbrio que consiste em não reconhecer a importância crescente das economias emergentes e dos países em desenvolvimento, na arena econômica e política global", disse Rousseff.

Em relação ao BRICS, segundo ela, a agência da ONU para Comércio e Desenvolvimento prevê que, em 2030, o BRICS responderá por 43% de toda a produção, do PIB global, e já ultrapassaram o G7 economicamente.

Rousseff destaca que o Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF, na sigla em inglês) é de grande importância, já que fala da relevância dos valores para se construir a prosperidade e um mundo mais cooperativo.

"Quais são esses valores? O primeiro é o valor do multilateralismo, que é o fato de você reconhecer em todos os países o direito de cada um ter a sua posição, ter o seu projeto de desenvolvimento, ter sua estratégia de desenvolvimento, o que, na verdade, é o reconhecimento da soberania dos países. O segundo valor diz respeito à questão da cooperação. A cooperação é muito mais importante do que todas as políticas que implicam na interrupção de cadeias comerciais [...]. A cooperação leva também à construção de novos caminhos. Entre eles, por exemplo, plataformas como os BRICS e bancos como o NDB, o New Development Bank", disse ela.

"Porque criam-se oportunidades de interação, contribuindo por meio da cooperação para se transferir conhecimento, para se transferir tecnologia. [...] A palavra desenvolvimento, que está dentro, por exemplo, do banco do qual eu sou presidente, diz respeito ao fato de que é importante que países tenham capacidade de se desenvolver. Desenvolver hoje significa 'tecnologia'", observou Rousseff.

Em relação à construção de uma nova ordem financeira, a presidente do NBD disse que isso não significa ir contra algumas moedas fortes, como o euro ou o dólar, significa acrescentar.

"O que significa acrescentar neste caso? Significa valorizar as moedas locais. As nossas moedas locais podem ser objeto do uso que já é crescente, por exemplo, em trocas comerciais", notou ela.

O NBD respeita a soberania dos diferentes países que integram o banco, isso significa que os projetos, as prioridades e os planejamentos que os países fazem são respeitados.

"O que nós queremos é poder contribuir de fato com os países em desenvolvimento e as economias emergentes, que hoje são cada vez mais importantes. É fundamental dar a esses países condições para que a população de cada um tenha melhores condições de vida e supere as profundas desigualdades", frisou Rousseff.

Ela disse por fim que "as forças do unilateralismo bloqueiam o desenvolvimento, mas as forças da cooperação podem romper o bloqueio. Não é o multilateralismo que impede o desenvolvimento harmônico e compartilhado, mas o hegemonismo e a imposição unilateral de modelos".