INTERFERÊNCIA EXTERNA

Puxada de tapete na soberania: 5 momentos que os EUA tentaram interferir na política brasileira

Publicado em 14/07/2025 às 20:11
© AP Photo / Leo Correa

Na última semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou furor ao anunciar, em carta ao governo brasileiro, a taxação de 50% sobre as importações de produtos oriundos do Brasil. Como justificativa, ele acusou prejuízos ao seu país e defendeu o ex-presidente do brasileiro Jair Bolsonaro, alegando que este era alvo de perseguição.

Essa não é a primeira vez, no entanto, que o governo norte-americano tenta desestabilizar a soberania dos Poderes brasileiros.

A Sputnik Brasil listou cinco momentos importantes em que os EUA interferiram nos assuntos internos do Brasil.

Ditadura militar

Na década de 1960, o temor não era que o Brasil se transformasse em Venezuela, mas em China, conforme revelado em uma carta entre o embaixador americano no Brasil entre 1961 e 66, Lincoln Gordon, e governo dos EUA.

As participações do governo americano no Brasil começaram antes mesmo do presidente João Goulart chegar à presidência. Segundo historiadores, houve financiamento do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), que à época produzia conteúdos anticomunistas. A influência americana também chegou nas Forças Armadas. Um intercâmbio entre Brasil e EUA no meio militar foi caminho para a formação dos oficiais que tomaram o poder em 1964.

Segundo o pesquisador americano James Green, em declaração ao Brasil de Fato, os EUA estavam preparados para reconhecer, a pedido do embaixador americano no Brasil, o governo estabelecido logo após o golpe em abril de 1964. Além disso, havia previsão do envio de militares americanos ao país caso houvesse resistência à tomada de poder.

Pressão para o Brasil tirar Bustani na questão iraniana

O ex-embaixador brasileiro José Maurício Bustani foi destituído do cargo de diretor-geral da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) em 2002 por pressão americana. Na ocasião, o diplomata defendia a não invasão ao Iraque, posição que foi determinante na sua demissão.

Em entrevista à Sputnik Brasil em março do ano passado, Bustani relembrou que a chegada de George W. Bush ao poder trouxe uma nova mentalidade na política externa americana, centrada na guerra contra o terror, e que, naquele momento, já tinha escolhido o Irã, o Iraque e a Coreia do Norte como seus grandes inimigos.

A tensão entre o diplomata e o governo americano se dava, portanto, na seguinte questão: Iraque e Líbia decidiram aderir ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), contrariando o complexo militar-industrial americano, que, àquela altura, já considerava uma futura invasão ao Iraque.

Como os americanos tinham como objetivo interferir na mudança de regime iraquiana, criaram a narrativa de que o governo de Saddam Hussein fabricava armas de destruição em massa. A OPAQ, entretanto, já havia apurado que o Iraque não tinha tal arsenal e, antes da invasão, o próprio serviço de inteligência do Reino Unido já tinha comprovado a situação.

O impasse gerou pressão para que Bustani adotasse a narrativa americana, mas ele ousou dizer não. Em abril de 2002, a pedido de Washington, uma votação especial foi realizada e teve 48 países a favor de seu afastamento, com 7 contra e 43 abstenções.

Espionagem ao governo da presidente Dilma Rousseff

No início da década de 2010 o governo da então presidente Dilma Rousseff foi alvo de espionagem por parte da administração de Barack Obama. Naquele momento, o Brasil gozava, além de sua autonomia diplomática, da descoberta do pré-sal.

A responsável pela espionagem, conforme fora revelado anos depois pelo site WikiLeaks, foi a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês). Conforme exposto, além de Dilma, 29 telefones do governo petista – incluindo o de ministros, diplomatas e assessores – foram espionados pela agência de inteligência.

Influência americana na Operação Lava-Jato

O mesmo WikiLeaks revelou, tempos depois, um documento do governo dos EUA que mostra como a Lava Jato e o juiz Sérgio Moro foram impactados por agentes americanos que ministravam seminários sobre como combater "crimes financeiros e terrorismos". Neste caso, os brasileiros teriam sido influenciados a criarem uma força-tarefa, que recebeu acompanhamento externo.

Segundo os documentos vazados do WikiLeaks, os agentes americanos incentivavam que os treinados criassem uma força-tarefa para um caso específico e dariam acesso aos treinadores, no caso os especialistas americanos que forneceriam apoio "em tempo real".

A acusação de que os EUA tentaram criar uma rede para defender seus interesses no Brasil foi amplamente divulgada, sobretudo após as informações vazadas. Um jornal francês, inclusive, chegou a publicar uma longa reportagem dizendo que a Lava-Jato serviu a vários interesses, "menos à democracia".

Governo Trump resolve taxar exportações brasileiras em 50%

Os EUA, apesar de registrar um superávit com o Brasil há mais de uma década, alegou problemas na balança comercial entre os países para impor uma tarifa de 50% às importações, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto.

O anúncio do governo americano foi feito em uma carta enviada ao governo brasileiro. Logo no primeiro parágrafo do comunicado, Trump menciona decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e redes sociais norte-americanas como justificativa para as tarifas.

A manifestação do líder americano causou um alvoroço. Enquanto de um lado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a soberania brasileira, o ex-presidente Jair Bolsonaro e, mais incisivamente, seu filho Eduardo Bolsonaro, que está nos EUA licenciado do cargo de deputado federal, ficaram a favor de Trump e vêm defendendo que o governo brasileiro ceda anistia ao ex-mandatário para que a situação seja resolvida.

A pressão, no entanto, vem sendo criticada pelos meios de comunicação, por políticos, intelectuais e parte da população. Especialistas concordam que a medida fere a soberania brasileira.


Por Sputinik Brasil