Ação do STF contra Bolsonaro torna relação dos EUA com o Brasil mais 'imprevisível', diz analista

Presidente dos EUA tem criticado o Judiciário brasileiro, em especial o Supremo Tribunal Federal, alegando uma suposta perseguição política a Bolsonaro, principal adversário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aliado de Donald Trump.
O ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro foi alvo de uma ação da Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (18) para o cumprimento de uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que, entre outras determinações, obriga o político a usar tornozeleira eletrônica.
A operação da PF acontece poucos dias após os Estados Unidos anunciarem uma nova rodada de tarifas contra o Brasil. O tarifaço estipula taxas de 50% sobre exportações brasileiras para o território norte-americano a partir de 1º de agosto.
Entre os argumentos na carta assinada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, está uma suposta perseguição política sofrida por Bolsonaro, que seria alvo do STF.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Nathan Morais, doutor em relações internacionais e pesquisador do Laboratório de Estudos Sobre Regionalismo e Política Externa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), afirmou que não há como saber qual será a resposta de Trump em relação à operação de hoje.
"Trump é pessoa muito imprevisível nas suas ações, decisões e falas, principalmente. É muito difícil prever o que ele vai fazer. Ele pode dobrar a aposta insistindo no tarifaço ou pode simplesmente cancelá-lo, como vem recuando em muitas medidas."
Segundo Morais, para projetar os próximos passos do presidente norte-americano, antes, é preciso entender o que gerou a rodada de tarifas, algo que ainda não há consenso entre pesquisadores e analistas internacionais.
"Tem quem atribua o tarifaço ao Bolsonaro, à inserção internacional do Brasil com a participação no BRICS, à ligação dos EUA com as big techs, e tem quem atribua a esses três motivos, o BBB: Bolsonaro, BRICS e big techs. Eu concordo particularmente com a hipótese BBB."
Ainda assim, o doutor em relações internacionais entende que faz parte da estratégia de Trump e da família Bolsonaro pressionar o Executivo do Brasil a, de alguma forma, negociar com o Judiciário, na figura do STF, uma anistia aos presos do 8 de Janeiro e aos investigados pelos eventos que ficaram conhecidos na mídia como trama golpista.
Para Morais, entretanto, a esperança de uma anistia está cada vez mais distante, o que pode mudar a estratégia dos envolvidos.
"Acho que já passou do ponto de anistia, já está inviabilizado. Está começando um recálculo de rota, principalmente por parte do bolsonarismo, dos atores ligados ao presidente Bolsonaro, no sentido de que essa estratégia atual não está dando certo."
Quanto à diplomacia brasileira, o especialista vê grande esforço para normalizar as relações com os EUA. Entretanto, não parece haver reciprocidade em Washington.
"O Itamaraty vem tentando esse diálogo, que é cada vez mais difícil. Cada vez mais o governo Trump vem dobrando a aposta. A gente pode citar, por exemplo, a abertura da investigação da Section 301, acusando o Brasil de práticas desleais no comércio internacional, desmatamento e até ataque ao sistema de pagamento Pix."