Na mira da Justiça, CSE recebeu R$1,7 milhão da Prefeitura em 2024 sob gestão de Júlio Cezar, sobrinho da atual prefeita Luísa Duarte
Documento da prefeitura requisitado pelo Ministério Público revela repasses milionários ao clube, enquanto bairros da cidade afundam em lama, buracos e abandono

A Prefeitura de Palmeira dos Índios repassou ao Clube Sociedade Esportiva (CSE) um total de R$ 1.745.900,00 em 2024, segundo documento oficial da Controladoria Geral do Município requisitado pelo Ministério Público. Os recursos foram transferidos durante a gestão do então prefeito Júlio Cezar da Silva, sobrinho da atual prefeita Luísa Duarte.
A informação foi fornecida ao Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) no contexto das investigações que apuram a falta de prestação de contas por parte da diretoria do clube, presidido por José Barbosa da Silva, que já é alvo de inquérito civil e procedimento investigatório criminal por omissão e ausência de transparência.
O levantamento detalha 13 repasses ao longo do ano, com valores que variaram de R$ 13 mil a R$ 278 mil, totalizando quase R$ 1,8 milhão retirados dos cofres municipais.
Futebol milionário, povo no abandono
Os dados, repassados oficialmente pela Controladoria escancaram o abismo entre o que é investido no futebol profissional da cidade e o que falta nas ruas.
Enquanto o CSE recebia aportes públicos, comunidades como a Fazenda Canto, Sonho Verde e Serra do Candará enfrentavam — e ainda enfrentam — buracos, poeira, lama, escolas precárias, transporte escolar deficiente e ausência de serviços básicos de saúde.
Em janeiro de 2025, o Ministério Público cobrou da prefeitura a documentação relativa aos repasses, após reiteradas falhas na transparência e ausência de comprovação de uso dos recursos por parte do clube.
Laços de família e conivência política
Os repasses milionários ao CSE foram realizados sob a caneta de Júlio Cezar da Silva, que encerrou o mandato em dezembro de 2024. Em seu lugar, assumiu a tia, Luísa Julia Duarte, que mantém ligação política direta com o ex-prefeito e herdou a estrutura de governo, incluindo parte do secretariado e a linha de financiamento esportivo.
Até o momento, nenhum dos dois se pronunciou publicamente sobre o montante destinado ao clube, tampouco sobre as apurações do MP.
A quem serve o dinheiro público?
Com o município enfrentando protestos por infraestrutura, saúde precária e promessas não cumpridas, o volume de recursos destinados ao futebol profissional contrasta com a realidade da população. Na cidade asfalto virou luxo, esgoto corre a céu aberto e o povo clama por dignidade. A realidade de um futebol milionário mantido com dinheiro público parece, no mínimo, descompassada com as urgências da cidade.
O esporte tem seu valor, sem dúvida. Mas o que está em xeque não é o CSE, e sim a priorização orçamentária de uma cidade onde o povo precisa de mais saúde antes de comemorar gol.