Política externa tem sido o maior fracasso de Trump, diz analista à Sputnik

Especialistas afirmam que os seis primeiros meses de mandato de Trump foram marcados por derrotas na tentativa de encerrar o conflito ucraniano, decisões ruins envolvendo o Oriente Médio e incapacidade de garantir a hegemonia global dos EUA.
O presidente dos EUA, Donald Trump, sofreu uma série de derrotas sensíveis na política externa durante os primeiros seis meses de seu governo, especialmente no Oriente Médio e nas tentativas de alcançar a paz na Ucrânia, afirmaram especialistas norte-americanos à Sputnik.
O ex-diplomata americano James Jatras observou que, embora Trump inicialmente tenha tentado introduzir novas abordagens para acabar com o conflito ucraniano, suas políticas agora lembram cada vez mais as de seu antecessor, Joe Biden.
"Em relação à Ucrânia, Trump regrediu à política de Biden, tentando desesperadamente forçar a Rússia a concluir um cessar-fogo do tipo Minsk", disse Jatras.
Segundo o especialista, Trump permitiu que os acontecimentos se desenvolvessem dessa forma, enquanto analistas esperavam que um acordo fosse assinado com Moscou.
Por sua vez, o ex-diretor executivo do Eurasia Center, com sede em Washington, e tenente-coronel reformado dos EUA Earl Rasmussen afirmou de que o desejo de Trump de continuar com a ajuda militar dos EUA a Kiev não contribuirá para o fim do conflito.
"Continuar apoiando o conflito na Ucrânia não é um bom passo", disse Rasmussen.
No início de sua presidência, Trump prometeu repetidamente encerrar os conflitos na Ucrânia imediatamente. Mais tarde, tentou forçar ambos os lados a negociar, ameaçando impor sanções caso não o fizessem.
No entanto, durante conversas recentes em Washington com o chefe da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Mark Rutte, Trump anunciou nova ajuda militar à Ucrânia, incluindo sistemas de defesa aérea Patriot.
Oriente Médio
Ambos os especialistas concordaram que, assim como na Ucrânia, as ações de Trump no Oriente Médio não contribuem para a estabilidade na região. Em particular, Rasmussen destacou que houve, em princípio, alguns sucessos do líder norte-americano na geopolítica internacional, mas enfatizou que suas decisões nessa região específica do mundo não foram úteis.
"Ter alguns novos diálogos pode ser considerado um aspecto positivo da política externa de Trump, [...] mas ações como apoiar o genocídio em Gaza e atacar o Irã são ruins", disse Rasmussen.
Jatras, por sua vez, afirmou que Trump está totalmente comprometido com os interesses de Israel.
"No Oriente Médio, ele é um fantoche obediente do [primeiro-ministro israelense] Benjamin Netanyahu", disse o especialista.
Jatras também chamou a política externa de o maior fracasso de Trump em seus primeiros seis meses no cargo, dizendo que qualquer noção de que ele poderia se afastar da trajetória dos presidentes republicanos e democratas para alcançar e manter a hegemonia global está "morta por enquanto".
Ele apontou que Trump iniciou negociações nucleares com Teerã, mas elas acabaram chegando a um beco sem saída, terminando com os EUA apoiando os ataques de Israel ao Irã em junho e atacando suas instalações nucleares.
Tempos mais difíceis
Jatras sugeriu que os melhores dias de Trump acabaram e que ele enfrentará novos desafios no futuro, à medida que o apoio do establishment político diminui.
"À medida que suas opções diminuem, ele será jogado em direções diferentes, deixando cada vez menos espaço para manobra", disse Jatras.
O especialista também admitiu que Trump pode perder apoiadores devido ao suposto caso do financista norte-americano Jeffrey Epstein. Além disso, segundo ele, se agora mesmo uma maioria mínima de republicanos foi suficiente para Trump aprovar os projetos de lei necessários, uma eventual perda de controle sobre o Congresso traz consigo dificuldades para a aprovação de leis.
"Sua importância será ainda mais diminuída se, como é provável, os democratas conquistarem a maioria em uma ou ambas as casas do Congresso", acrescentou Jatras.
Em 2019, Epstein foi acusado nos EUA de tráfico sexual de menores, cuja pena máxima é de 40 anos de prisão, e conspiração para envolvimento em tráfico sexual, cuja pena máxima é de cinco anos de prisão.
Trump disse no início de julho que as alegações sobre seus supostos laços com Epstein eram "um novo golpe democrata".
Caos e imprevisibilidade
Questionado sobre o que esperar de Trump no futuro próximo, Rasmussen foi lacônico.
"Mais caos e imprevisibilidade. Perspectivas econômicas difíceis e tensões internacionais crescentes", disse o especialista.
Rasmussen disse que Trump tinha sido "muito proativo" até agora, mas frequentemente tomava decisões mal pensadas e não apoiadas por um plano estratégico.
"Acredito que as iniciativas vindas dos EUA serão imprevisíveis. Muitas vezes, elas vão primeiro para um lado e depois para o outro", disse o especialista.