REFLEXÃO

Palmeira dos Índios: 136 anos e o espelho de Graciliano Ramos: a princesa nua e suja

Por Vladimir Barros Publicado em 20/08/2025 às 18:02

Nesta quarta-feira, 20 de agosto, Palmeira dos Índios celebra 136 anos de emancipação política. No entanto, a manchete que escolhemos para marcar esta data traz à tona uma reflexão incômoda e necessária: "Palmeira dos Índios, a Princesa Nua e Suja de Graciliano.

"A expressão, extraída da visão crítica de Graciliano Ramos, que foi prefeito da cidade no final da década de 1920, contrasta com o título carinhoso de "Princesa do Sertão". Enquanto a cidade celebra sua história e sua independência, vale a pena revisitar o olhar nu e cru de Graciliano, que via além das aparências e não romantizava as dificuldades de sua época.

Graciliano Ramos, conhecido por sua literatura realista, administrou Palmeira dos Índios enfrentando desafios severos: a seca, a falta de infraestrutura, a pobreza que assolava a população. Em seus relatórios de gestão e em sua obra literária, ele descreveu a cidade sem retoques, mostrando um cenário árido e problemático, longe de qualquer idealização idílica.

Quase um século depois da gestão de Graciliano, a cidade ainda carrega as marcas de um desenvolvimento que oscila entre avanços e desafios persistentes. O título "Princesa Nua e Suja" é um convite a refletir sobre o quanto evoluímos e o quanto ainda temos a caminhar para que a cidade se aproxime de uma realidade mais digna para todos.

Hoje, Palmeira dos Índios comemora seus 136 anos de emancipação, mas a lembrança do olhar crítico de Graciliano nos lembra que o aniversário não é apenas um momento de festa, mas também de introspecção. O escritor e ex-prefeito, homem honesto e probo, nos legou não só uma imagem dura da cidade de seu tempo, mas um chamado à responsabilidade pública.

Quando assumiu a prefeitura de Palmeira, em 1928, Graciliano Ramos — ainda longe da fama literária que viria com Vidas Secas — já mostrava a franqueza que se tornaria sua marca. Em relatórios oficiais, descreveu a cidade com dureza: ruas sem calçamento, coleta de lixo precária, falta de saneamento e um cotidiano marcado pela pobreza. Daí nasceu a expressão que choca e incomoda até hoje: “Palmeira dos Índios, a Princesa nua e suja”. Cabe a nós, quase 100 anos depois, olhar para essa "princesa" com a mesma sinceridade e trabalhar para que ela se torne cada vez menos "nua" e "suja" e mais justa, digna e próspera.