Itália sepulta Marah, jovem símbolo da fome em Gaza
Mulher de 20 anos morreu logo após resgate em voo humanitário

Cerca de 500 pessoas enfrentaram o céu nublado e as nuvens carregadas de chuva nesta quarta-feira (20), na cidade italiana de San Giuliano Terme, para comparecer ao funeral de Marah Abu Zuhri, a palestina desnutrida de 20 anos que morreu recentemente em um hospital de Pisa.
Natural da Faixa de Gaza, ela havia desembarcado na Itália em um voo humanitário menos de dois dias antes do óbito e, segundo os médicos, apresentava "grave deterioração orgânica" — e sem indícios de leucemia, contradizendo o governo de Israel.
"Minha filha e sua morte representam o sofrimento da Palestina e de todos os palestinos. Ela agora ficará aqui, e eu retornarei à minha terra natal, Gaza", disse a mãe de Marah durante a cerimônia de despedida, conduzida pelo imã de Pisa, Mohammad Khalil.
O funeral foi organizado pelo prefeito de San Giuliano Terme, Matteo Cecchelli, que cedeu um lugar em um dos cemitérios da cidade para o sepultamento da jovem. "A morte de Marah não é uma exceção", disse ele, "como alguns tentaram fazer crer, atacando nossos excelentes médicos". "Sua morte é consequência do genocídio do povo palestino perpetrado pelo governo israelense.
Em Gaza, pessoas morrem todos os dias em meio ao silêncio ensurdecedor dos governos mundiais. Decidimos nos pronunciar diante de uma catástrofe humanitária e política dessa magnitude", acrescentou.
O governador da Toscana, Eugenio Giani, também participou e denunciou "ataques imprudentes por parte das autoridades israelenses" aos médicos que cuidaram de Marah. "Nossos médicos fizeram todo o possível, assim como estão fazendo pelas três crianças [palestinas] internadas no Hospital Meyer, em Florença, e pelas outras que estão no hospital de Pisa", garantiu.
Nos últimos dias, o governo de Israel afirmou que a palestina sofria de uma leucemia aguda, por isso estava acamada, mas exames realizados na Itália descartaram esse diagnóstico.
"A paciente estava extremamente debilitada, completamente acamada. E ela estava nessa situação havia muito tempo", declarou Sara Galimberti, diretora da unidade operacional de hematologia da Agência Hospitalar Universitária de Pisa, cogitando, por outro lado, a hipótese de uma "doença subjacente, diagnosticada incorretamente ou nunca diagnosticada".