Teatro de Contêiner denuncia violência e 'interesse do capital' em ação de reintegração em SP

O Teatro de Contêiner Mungunzá, no centro de São Paulo, voltou a ser alvo de conflito após ação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) no anexo do espaço cultural. O artista Marcos Felipe relatou à Sputnik Brasil que, durante um ensaio, foram "surpreendidos por uma empresa quebrando o edifício", com objetivo de "instalar uma tela de proteção".
Segundo ele, houve resistência por parte dos integrantes do grupo artístico diante da ação. "Nós fomos para conter essa empresa e a GCM. E aí a GCM, de forma truculenta, violenta, tirou a gente e lacrou o edifício, que é anexo ao Teatro de Container, fazendo o início de uma reintegração de posse de um processo que ainda está em andamento".
O processo judicial sobre a ocupação se arrasta há meses, sobretudo em maio de 2025, quando o local recebeu um ofício extrajudicial "dando 15 dias para sair".
"E desde então a gente tem tentado o diálogo com a prefeitura, seja na possibilidade de ficar, ou seja, na possibilidade de sair daqui. Daqui, mas para um terreno que respeite a historicidade e a arquitetura desse espaço", disse.
Os artistas dizem não se opor a uma realocação, mas questionam a falta de condições adequadas, o que inclui achar um espaço com características semelhantes ao teatro original.
"Estamos na eminência de pedir uma prorrogação de prazo para que a gente não coloque em risco o bem material e imaterial desse espaço, para que a gente tenha mais tranquilidade para sair e para que a gente consiga finalizar os projetos que estão em andamento nesse momento".
A prefeitura alega que o terreno será destinado à construção de moradias de habitação social. Mas, segundo o artista, "não há projeto ainda, e aí eles querem tirar nós a todo custo daqui para fazerem política, para entregar tudo isso aqui para o capital imobiliário numa suposta revitalização do centro de São Paulo".
"E a gente questiona isso porque há muitos imóveis ociosos no centro da cidade de São Paulo, passíveis de serem usados por habitação social", acrescentou.
Felipe defende que habitação e cultura caminham juntas. Segundo ele, "pensar habitação também é pensar cultura, pensar segurança, pensar saúde".
"Então, todo o projeto de habitação deveria, a partir do pressuposto do que já existe aqui, por exemplo, o Teatro de Contêiner, que é um dos equipamentos mais importantes do nosso país. Se é um espaço que é referência à arquitetura, que é uma referência em equipamento cultural do nosso país, e ele está sendo tratado com tanta violência, a única explicação que a gente tem é um projeto de extermínio cultural no centro de São Paulo."
Ele também critica as alternativas oferecidas pelo poder público. "Entender esse teatro como um teatro-praça, teatro de contêiner tem as paredes de vidro, ele precisa estar num lugar em que ele tenha lateralidade, que ele tenha espaço, que a gente consiga entrar e sair com caminhão para descarregar cenário, que ele tenha uma área de convivência, enfim, que ele não seja colocado num lote de sobrado, ou no fundo de um lote, ou num terreno pequeno que é entendido como praça, que são os terrenos que nos foram oferecidos até agora."
Por fim, o artista aponta o desrespeito às instâncias federais: "o desrespeito da prefeitura e do governo de estado, inclusive com o Ministério da Cultura, que já tinha emitido um ofício solicitando prorrogação de prazo por 180 dias para que o governo federal também ajudasse a buscar uma saída, e o desrespeito completo com o Ministério Público, que já estava analisando o inquérito do despejo do teatro. Então todas essas coisas que têm acontecido de forma atropelada mostra a tamanha violência e o ódio que se tem com a cultura, mas mostra também o desrespeito que se tem com as instituições, sejam elas jurídicas, sejam elas políticas".
Em nota, a Prefeitura de São Paulo afirma ter oferecido terrenos alternativos para realocação do teatro, mas que os artistas não aceitaram as propostas. O município justifica a reintegração como necessária para viabilizar o programa habitacional e destaca que a decisão judicial deve ser cumprida. Já o Ministério da Cultura e a Funarte se manifestaram em defesa do espaço cultural, repudiando a ação da GCM.
Por Sputinik Brasil