Conflito na Ucrânia é 'laboratório vivo' para organizações criminosas mexicanas, afirma analista

A polícia mexicana carece de sistemas de guerra eletrônica para destruir os veículos aéreos não tripulados (VANTs) que vários cartéis de drogas do país latino-americano utilizam há vários anos, observam analistas consultados pela Sputnik.
Uma unidade do Cartel Nova Geração de Jalisco (CJNG) teria recebido treinamento na Ucrânia para operar drones em guerrilha urbana, de acordo com uma reportagem do jornal local Milenio.
Fontes do governo de Jalisco disseram ao veículo que a unidade responsável pelos drones do CJNG se chama "Operadores de Drones" e tem sido responsável por divulgar suas atividades criminosas nas redes sociais, em vídeos que mostram que não estão agindo de forma improvisada. "Sua maneira de avançar em duplas, se proteger, usar armas e recuar obedece a protocolos de combate aprendidos em cenários reais de guerra", observa o jornal.
O uso de drones pelo crime organizado está mudando a natureza dos confrontos entre forças de segurança e cartéis, o que forçaria o governo mexicano a considerar grandes planos de investimento em sistemas de guerra eletrônica, disseram à Sputnik Víctor Hernández, ex-membro do Exército Mexicano e mestre em Inteligência e Segurança Internacional pelo King's College London, e Alejandra López de Alba, ex-diretora de Pesquisa da Unidade de Informação e Análise do Ministério da Segurança Pública do México.
"No México, nunca desenvolvemos nossas capacidades de guerra eletrônica, então os narcotraficantes têm a vantagem, não porque tenham grandes capacidades, mas porque os narcotraficantes não precisam realizar processos de licitação ou aderir a marcos legais para adquirir sistemas e armas [...]. Os narcotraficantes podem comprar drones civis em uma loja de departamentos e fabricar explosivos caseiros [...]", explica Hernández.
A Sputnik contatou o Ministério da Defesa Nacional, o Ministério da Marinha, o Ministério da Segurança e Proteção ao Cidadão e o Ministério das Relações Exteriores para discutir o assunto, mas até o momento não houve resposta.
Quão difícil é para as Forças Armadas se manterem à frente?
Para López de Alba, é "100% possível" que alguns membros do crime organizado que operam no México tenham viajado para a zona de conflito no Leste Europeu para "aprender e adquirir habilidades" na operação de VANTs para fins militares.
"O conflito na Ucrânia é um laboratório vivo e em tempo real de como esses drones são usados e como seu processo de inovação se desenvolve. Isso é o que realmente atrai organizações criminosas no México ou em qualquer outro país", afirma o vice-diretor do Conselho Mexicano de Assuntos Internacionais.
Em maio passado, o Ministério da Defesa Nacional anunciou que havia iniciado um processo para investir US$ 89,7 milhões (cerca de R$ 487,5 milhões) na aquisição de sistemas tecnológicos avançados para melhorar a segurança dos militares contra ataques explosivos do crime organizado, como os lançados por drones. A maior parte desses equipamentos será destinada à região militar que inclui os estados de Jalisco, Colima, Nayarit, Zacatecas e Aguascalientes.
No entanto, embora essa notícia seja positiva para as Forças Armadas, a realidade é que pode levar anos para que essa tecnologia comece a ser aplicada em campo. "Os soldados mexicanos sabem patrulhar, mas nunca lidamos com equipamentos de alta tecnologia, como um bloqueador ou qualquer equipamento antidrone. Mas mesmo que esse treinamento comece a ser incluído na Academia Militar ou em cursos de formação, isso leva tempo", diz Hernández.
As novas capacidades do crime organizado no México em guerra eletrônica, aponta López de Alba, adicionam "níveis de dificuldade" ao combate ao crime e à estratégia do governo de Claudia Sheinbaum.
"As Forças Armadas precisam estar sempre à frente, independentemente de terem um adversário imediato ou não. É importante estar preparado e imediatamente disponível para enfrentar qualquer tipo de ameaça. O contexto internacional exige de nós maior responsabilidade", acrescenta.
O mais preocupante, diz Hernández, é que o uso de drones "nivela o campo de jogo" para as Forças Armadas e os criminosos, no sentido de que "antes havia uma clara assimetria em que o Estado tinha vantagem porque tinha aeronaves de reconhecimento e F-5 para observar os movimentos do inimigo". No entanto, alerta o especialista, os traficantes de drogas agora também podem realizar seu próprio reconhecimento aéreo com drones.
Por Sputinik Brasil