Perigoso exagero estratégico: ataque de Israel em Doha destrói pontes pela paz, dizem especialistas

Israel expandiu a geografia dos países bombardeados nesta terça-feira (9), tendo como alvo uma delegação de autoridades do Hamas envolvidas em negociações de paz no Catar. A Sputnik perguntou a dois especialistas regionais como a agressão impactará a posição de Israel na região a longo prazo.
As operações militares israelenses em Gaza, Líbano, Síria e agora no golfo sinalizam um "excesso" que não ficará sem sérias repercussões diplomáticas, disse à Sputnik o analista de segurança dr. Hasan Selim Ozertem, baseado em Ancara.
"Olhando para a Europa, para os EUA, para o golfo, esses países começaram a articular suas preocupações com a agressão israelense, o que não acontecia antes devido à influência do lobby israelense, especialmente na política norte-americana", explicou Ozertem.
Com o Catar atuando como mediador na guerra de Gaza, o ataque a Doha "também mina a credibilidade de Israel" entre as potências do golfo com as quais Tel Aviv deseja estabelecer laços por meio dos Acordos de Abraão.
A agressão israelense pode até resultar na criação de novos pactos regionais, afirma Ozertem.
"O príncipe herdeiro saudita disse que [Riad] apoiará o Catar. No passado, sabíamos que o Catar e a Arábia Saudita tinham problemas políticos. Eles conseguiram resolvê-los. Agora estamos falando de uma aliança militar [...] uma opinião ou bloco anti-israelense na região entre atores locais [...] aumentando a probabilidade de um potencial confronto entre Israel e outros."
Queimando pontes
"Ao atacar Doha enquanto as negociações de paz para pôr fim ao genocídio de Gaza estavam em andamento, Netanyahu demonstrou mais uma vez seu desdém por negociações e sua preferência pela força bruta como solução definitiva", afirma Mehran Kamrava, professor de governo na Universidade de Georgetown, no Catar.
A estratégia de "caos administrado" de Netanyahu ameaça sair do controle e isolar ainda mais Israel, "tornando-o um Estado desonesto e pária", disse Kamrava.
Além da reputação de Israel, o ataque promete "custar aos EUA grande parte de sua já reduzida credibilidade no mundo árabe", afirma o acadêmico, enfatizando que o apoio incondicional dos EUA a Israel está se mostrando "extremamente custoso", à medida que o governo israelense toma medidas que o fazem parecer cada vez mais "desequilibrado" e "desprovido de qualquer racionalidade".