Power of Siberia 2: Rússia e China movem peças e definem um 'novo eixo energético global'

À Sputnik Brasil, analistas apontam que o projeto do novo gasoduto, que fornecerá energia russa à China, confirma as boas relações entre os países, além de ser mais um movimento de peças no tabuleiro da geopolítica energética em resposta às sanções europeias.
Rússia e China assinaram recentemente um acordo para a construção do gasoduto Power of Siberia 2, que vai ampliar a energia russa enviada ao país vizinho. O anúncio foi dado durante a visita do presidente russo, Vladimir Putin à China para as comemorações da vitória na Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, o gasoduto Power of Siberia 1 fornece 38 bilhões de metros cúbicos por ano e a expectativa é que após a conclusão das construções de seu irmão, o fornecimento chegue a 106 bilhões de metros cúbicos por ano.
Em paralelo à construção do Power of Siberia 2, foi anunciado também o oleoduto Soyuz-Vostok, uma extensão do gasoduto na Mongólia que cortará o país em uma nova direção à China.
À Sputnik Brasil, a pesquisadora de política russa e doutoranda em ciência política na Universidade de São Paulo (USP) Giovana Branco, afirma que o projeto reflete a política europeia de redução das importações energéticas da Rússia.
"O anúncio do novo gasoduto é o próximo passo esperado para essa mudança. Cada vez mais, temos uma economia russa voltada para o Leste, não mais contando com os países europeus."
Branco afirma que construção de uma infraestrutura energética desse porte confirma as boas relações entre Moscou e Pequim, que "convergem em seus interesses sobre o sistema internacional e o futuro da economia".
Dessa forma, a criação do novo gasoduto reduzirá ainda mais o impacto das sanções contra a Rússia, que já não atingiram o objetivo esperado pelos países ocidentais.
Porém, ela aponta que a estratégia traz um risco de criar uma dependência econômica para a Rússia e por isso é preciso pensar "no longo prazo" e "compreender o futuro da geopolítica na Ásia".
Do outro lado, a especialista reforça que a Europa ainda ainda precisa consolidar alternativas estáveis a longo prazo para o gás natural russo.
"Os países europeus ainda não substituíram totalmente as suas matrizes energéticas de uma maneira coerente com seus interesses econômicos e discursos ambientais."
Além de fortalecer a parceria geoeconômica entre Moscou e Pequim, a construção do Power of Siberia 2 "pode ser interpretada como mais um movimento de peças no tabuleiro da geopolítica energética", afirma à Spunik Brasil o engenheiro de petróleo Luis Augusto Medeiros Rutledge, pesquisador de petróleo e gás da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para Rutledge, analista de geopolítica energética do Centro de Estudos das Relações Internacionais (Ceres) e consultor da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a construção:
Isso é refletido especialmente pelo momento de anúncio da parceria, detalha o analista, feito após a divulgação de um acordo entre os Estados Unidos e a União Europeia (UE) para a compra de US$ 250 bilhões de gás, petróleo e tecnologia nuclear norte-americana pelos europeus.
O mercado europeu representava cerca de 80% das exportações russas de gás via gasodutos e mais de 40% de suas exportações de GNL. Esse mercado foi extinguido com as sanções e a produção russa foi substituída pela estadunidense e catariana.
"No balanço de poder, hoje, os norte-americanos possuem grande parte da fatia comercial de gás natural que pertencia aos russos. A UE apenas trocou de bandeira e permanece com sua tradicional dependência energética", explica.
"Apesar dos EUA e o Catar serem importantes supridores globais em suas respectivas esferas (o gás natural liquefeito dos EUA em grande parte no Atlântico e o Catar no Pacífico), o acordo Power of Siberia 2 tem implicações significativas no papel dos EUA nos mercados globais de energia."