JULGAMENTO

Condenação de Bolsonaro põe eleições de 2026 nas mãos dos moderados, avaliam analistas

Por Sputinik Brasil Publicado em 12/09/2025 às 16:20
© Foto / Antônio Augusto/STF

Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a condenação afasta da ala bolsonaristas dos eleitores moderados, que serão decisivos no próximo pleito presidencial.

A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro trouxe incerteza quanto aos rumos da direita nas próximas eleições presidenciais. Principal nome da direita, Bolsonaro é considerado um apoio essencial para qualquer candidato da vertente política, moderado ou radical, que deseje chegar ao Planalto em 2026.

Em contraponto, a esquerda tenta aproveitar o resultado do julgamento e o desgaste causado na imagem da família do ex-presidente pela atuação de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em prol da imposição de tarifas norte-americanas contra o Brasil.

A condenação não tem efeito imediato de prisão: a defesa de Bolsonaro e outros sete aliados condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ainda podem recorrer para tentar reverter as sentenças pelos cinco crimes dos quais foram acusados: organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

De qualquer forma, a condenação do ex-presidente enfraquece a ala bolsonarista, conforme aponta à Sputnik Brasil a cientista política Mayra Goulart, professora da Universidade Federal Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo ela, o julgamento põe em discussões temas como problemas com a Justiça e a figura da prisão, que afastam os eleitores mais moderados que definição a eleição do próximo ano. "A eleição para a presidência vai ser vencida por aquele candidato capaz de atrair as franjas do outro espectro ideológico."

"Os dois campos, nenhum tem uma maioria inquestionável. São esses eleitores que estão menos politizados, menos interessados, que podem definir a eleição."

Em meio a essa disputa política está o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujas pesquisas de popularidade já sinalizavam uma alta pela forma que se portou diante das tarifas da Casa Branca. Para a especialista, a decisão do julgamento confere fôlego à Lula para o próximo pleito pela postura distante que adotou diante da atuação do STF.

A analista afirma ainda que o julgamento tem caráter histórico tanto por colocar um ponto final em uma história de intervencionismo militar na política, quanto por servir de exemplo global, como noticiou o New York Times nesta sexta.

"É um caminho que está sendo apontado para como as instituições democrático-liberais podem reagir a uma extrema direita que é a principal ameaça que tem proliferado nos últimos anos contra o sistema democrático-liberal. O STF, enquanto parte desse sistema institucional, está apontando um caminho."

Por outro lado à reportagem o cientista político, Elias Tavares, defende que a condenação de Bolsonaro até "mexe com a direita", mas não enfraquece a figura do ex-presidente como principal nome da direita.

"De um lado, ela fragiliza juridicamente o ex-presidente, mas de outro reforça sua narrativa de perseguição, que ainda tem muito apelo junto à sua base."

Em sua opinião, o governador de são Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), nome mais cotado para representar a direita no lugar de Bolsonaro em 2026, já percebeu isso, e fez um gesto claro de aproximação com a ala bolsonarista em seu discurso do 7 de setembro.

"Ele sinalizou que está disposto a encampar essa retórica da perseguição política, herdar esse capital simbólico e, ao mesmo tempo, mostrar que pode ser o nome de continuidade. Tarcísio tem uma vantagem estratégica: governa São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, está bem avaliado e, se fosse candidato à reeleição, teria uma situação confortável."

Segundo o analista, essa posição confere a Tarcísio "capilaridade e musculatura política" que nenhum outro possível nome da direita tem no momento.

"Por isso, sim, ele [Tarcísio] tende a ser o maior beneficiado, embora exista também o risco de divisão, já que uma parte da direita deve se manter fiel a Bolsonaro até o fim."

Nesse contexto, Tavares afirma que a condenação de Bolsonaro traz consigo um paradoxo: enfraquece o seu nome como opção institucional, mas fortalece sua imagem como mártir político, sobretudo em setores que enxergam a Justiça como adversária.

"Do ponto de vista prático, ele perde condições de ser o candidato central da direita, mas do ponto de vista simbólico, ele ainda mobiliza. Essa narrativa de perseguição política vai manter Bolsonaro em evidência e, inevitavelmente, transfere parte desse capital para Tarcísio, que se coloca como herdeiro natural desse eleitorado."

Por outro lado, a esquerda também ganha. Segundo o especialista, o episódio "serve como um contraponto imediato que fortalece a narrativa lulista".

Para Tavares, o elemento que será decisivo paras as eleições de 2026 será o que ele aponta como "eleitor-pêndulo", aquele de centro, que não se identifica "nem com o lulismo nem com o bolsonarismo", e que, assim como ocorre nos EUA, ora pende mais para a esquerda ora para a direita.

"Só que, até o momento, eu não enxergo uma terceira via consistente que consiga captar esse eleitor de forma autônoma. Então, a tendência é que a polarização continue, porque esse eleitor-pêndulo acaba sendo disputado entre Lula e Bolsonaro ou, em um cenário sem Bolsonaro, entre Lula e Tarcísio."