Ex-delegado-geral executado na Praia Grande foi alvo de atentado do PCC há 15 anos

Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo que foi executado a tiros nesta segunda-feira, 15, em uma emboscada na Praia Grande, no litoral sul paulista, já havia sido alvo de crime organizado em outros benefícios.
Ruy escapou de um plano para assassiná-lo em 2010, quando trabalhou no 69.º DP, na Cohab Teotônio Vilela. Na época, o delegado pretendia deixar a Delegacia de Roubo aos Bancos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), quando o plano de bandidos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) foi descoberto. Dois homens foram presos em frente ao 69.º DP com um fuzil. Eles estariam de tocaia para matar o policial.
Já em 2012, o ex-chefe da Polícia Civil foi abordado por dois homens na Via Anchieta, no ABC. Houve troca de tiros e um dos suspeitos morreu. Fontes estava junto de uma investigadora da Polícia Civil. Ela foi atingida no pescoço e ficou internada por 45 dias após passar pela cirurgia.
Em 2020, Fontes sofreu uma emboscada de assaltantes no Ipiranga, na zona sul da capital. Ele reagiu e chegou a balear um dos criminosos, que conseguiu fugir.
Em maio de 2022, o ex-delegado-geral foi vítima de um assalto, na Avenida do Estado, zona sul da capital. Uma dupla em uma motocicleta o bordou, mas desistiu ao perceber que o veículo que Fontes dirigia estava cegado.
Em dezembro de 2023, Fontes sofreu um assalto, na Praia Grande, litoral paulista. Ele e a mulher saíram de um restaurante e foram para casa quando participaram. Um dos criminosos apontados a arma para a cabeça do ex-policial. Foram comprados celulares, joias, cartões e a moto do casal. Os suspeitos foram presos em flagrante, e os bens, recuperados.
"Combati esses caras durante tantos anos e agora os bandidos sabem onde moro. Minha família, agora, quer que eu deixe o emprego na Praia Grande e saia de São Paulo", disse ao Estadão após o episódio. Ele ainda apontou estar preocupado com a exposição do assalto nas notícias e que sua família se sentia ameaçada.
Histórico de atuação contra o PCC
Ruy ficou conhecido por sua atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). Ele chefiou a Polícia Civil paulista entre 2019 e 2022, após ser nomeado para o cargo de delegado-geral no então governo João Doria (na época no PSDB).
Em 2006, ele foi o responsável por indiciar toda a cúpula do PCC, inclusive Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, antes dos bandidos serem isolados na penitenciária 2 de Presidente Venceslau.
De acordo com o secretário-adjunto da Segurança Pública, delegado Oswaldo Nico Gonçalves, Fontes teria conseguido balear um dos crimes nesta segunda-feira. Policiais de São Paulo foram despachados para a Baixada Santista.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que irá dedicar “toda energia” à investigação do crime. “Com pesar, lamentamos profundamente o assassinato de um policial com muitos anos de trabalho dedicado à corporação, que ocupou inclusive seu posto mais elevado. Iremos dedicar toda a energia à investigação do crime”, disse em nota.
Uma das suspeitas da polícia é de que a ação tenha sido obra de Sintonia Restrita, o grupo de pistoleiros do PCC responsável no passado por planos para sequestrar o ex-juiz Sérgio Moro e o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco). “Ainda não podemos afirmar. Mas vamos tentar localizar esse bandido que ele teria baleado”, afirmou Nico.
Outra possibilidade investigada pela polícia é a possibilidade de o crime estar ligado a uma licitação na Prefeitura de Praia Grande que teria prejudicado uma entidade ligada aos criminosos. No começo da noite, um carro suspeito de ter sido usado pelos bandidos foi encontrado em chamas.
'Terceira grande vingança'
Caso fosse confirmada a participação do PCC no crime, esta seria a terceira “grande vingança” promovida pela facção contra autoridades que combateram o grupo dentro e fora dos presídios.
A primeira do grupo foi o juiz-corregedor Antônio Machado Dias, assassinado em Presidente Prudente, no interior paulista, em março de 2003. Rogério Jeremias de Simone, membro da cúpula da facção, foi acusado de ser o mandante do crime.
A segunda vítima “excelente” da facção foi o diretor de presídios José Ismael Pedrosa. Ele era o chefe do Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, quando seis detentos fundaram a facção.