Cine UFPE recebe mostra de curtas produzidos por estudantes das comunidades dos Coelhos e do Totó
Documentários são resultado de oficinas de letramento digital realizados com apoio da PNAB, via Prefeitura do Recife. Exibição será sábado (20/9), a partir das 10h, com entrada gratuita

O Centro de Convenções da UFPE recebe, neste sábado (20/9), às 10h, uma mostra de curtas produzidos a partir de oficinas gratuitas de letramento audiovisual, ministradas a 18 estudantes do ensino médio de escolas públicas do Recife - crianças, jovens e adultos – das comunidades do Sancho/Totó e dos Coelhos. A exibição marca a finalização de projetos contemplados na Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, via Ministério da Cultura, e a Prefeitura do Recife, pela Secretaria de Cultura. São eles “CineContato: Produzindo Olhares Críticos no Audiovisual”, aprovado no edital ‘Recife Virado na Periferia’, e “Olhares Críticos: Contato e Profissionalização no Audiovisual”, um dos selecionados do edital ‘Multilinguagens’.
Os projetos são encabeçados por estudantes do bacharelado e da licenciatura em Ciências Sociais, sob a orientação do professor de Antropologia Visual da Universidade Federal de Pernambuco Alex Vailati. No total, são 12 pesquisadores, que também foram capacitados na linguagem do audiovisual, na disciplina de Antropologia Visual.
“Ambas as iniciativas se voltam a trabalhar o audiovisual no contexto periférico, fomentando nos estudantes a capacidade crítica e tornando-os capazes de utilizar o audiovisual como ferramenta de denúncia e discussão das questões dos seus bairros. Além disso, buscamos também formar os pesquisadores ligados ao Programa de Educação Tutorial (PET) de Ciências Sociais nesta linguagem”, explica o professor Alex Vailati, que também é documentarista.
A cineasta e produtora cultural pernambucana Yanne Mendes, responsável por obras como “A Live Delas” e participante ativa da Rede Tumulto, que reúne criadores que ajudam a dar voz à periferia do Recife pela arte, comandou as gravações em campo. Os educandos aprenderam a fazer filmes pelo celular, os equipamentos mínimos necessários, a importância do áudio para contar a história e o processo de captação, além das etapas de decupagem e edição do material.
“Os estudantes trouxeram olhares singulares, transformando experiências cotidianas em obras que dialogam com memória, identidade e crítica social. Os três curtas expressam como o audiovisual, mesmo em processos curtos e com recursos limitados, pode abrir caminhos de escuta, reflexão e empoderamento social. Cada filme é um registro vivo das vozes e olhares das periferias do Recife, reafirmando que contar nossas próprias histórias é também ato de resistência”, salienta Yane Mendes.
Os participantes contaram com uma semana de aulas, realizadas no mês de junho, à noite, das 17h às 19h. No bairro do Sancho/Totó, a oficina reuniu jovens de 15 e 16 anos e contou com o apoio da ONG Cores do Amanhã para a realização dos curtas “Luther” e “Caranguejo do Totó”. O primeiro traz depoimento do grafiteiro Luther, um dos criadores da entidade, que promove ações de inclusão por meio da dança, artes visuais e esportes com crianças e jovens desde 2009.
No minidocumentário, o personagem conta sua história, a origem do seu nome, as dificuldades para ser reconhecido como artista visual e dá um recado inspirador para a meninada, num formato de registro direto, em que a vida real ocupa o centro da narrativa. O trabalho é assinado por Wandemberg C. Neves (Pierre), Monick M. Silva, Vitor Hugo L.G. e Lucimilly.
Já a obra que remete ao ‘caranguejo com cérebro’ Chico Science, foi desenvolvida por Ana Clara, Bernardo Cassimiro, José Henrique, Rakelly Andreza, Rayza Maria e Samuel Elano. Unindo simplicidade e potência, os jovens utilizam elementos do cotidiano e as riquezas culturais da comunidade. Experimentação de ângulos e planos diferenciados ajudam a dar vida à narrativa.
Nos Coelhos, a polêmica gerada na comunidade a partir da decisão da Prefeitura do Recife de transferir o “postinho de saúde” para o bairro vizinho da Ilha do Leite foi o mote para o telejornal “União e Conscientização, Empodera”. Formado por participantes de idades diversas, o grupo seguiu o caminho do audiovisual como ferramenta de disputa de narrativas diante da grande mídia, que muitas vezes apresenta as comunidades periféricas sob o olhar estigmatizado.
A produção explora de forma criativa os espaços internos do prédio do grupo Em Cena, que serviu de cenário e revela histórias reais de moradores. Participaram Fernanda Moura de Souza, Ítalo Guilherme Amaral da Silva, Victor Gabriel Bernardo da Silva, Maycon Douglas Gade, Jacicleyde Amaral, Mariana Penelopy Moura de Andrade e Maria Eduarda Barreto.
Durante a preparação do roteiro, houve muita escuta dos moradores. “Dentro desse processo, foi possível orientar a comunidade sobre os órgãos a que eles podiam se dirigir, os canais corretos, e de que forma abordar o problema”, conta Lívia Lopes.
METODOLOGIA
Tanto o projeto CineContato quanto o Olhares Críticos passaram por várias etapas até a exibição das produções assinadas pelos aprendizes. De início, foram realizadas pesquisas para avaliar o grau de conhecimento dos participantes acerca da linguagem e, a partir daí, eles foram direcionados para oficinas práticas de análise e produção audiovisual, sempre com o foco de despertar nos envolvidos o pensamento crítico e o protagonismo. Por meio da análise de filmes, exercícios de roteiro e produção de vídeos, os estudantes foram percebendo que podem colaborar para o debate crítico em suas comunidades.
“A partir dos resultados dos questionários, das oficinas e do diário de campo compartilhado pela equipe, foi possível observar que o audiovisual está presente no dia a dia dos jovens da periferia do Recife, muito relacionado às redes sociais. As oficinas revelaram que eles podem ir além disso e olhar de forma crítica para a realidade que vivem, apenas com o celular, usando a criatividade”, ressalta Vailati.
O projeto “CineContato: Produzindo Olhares Críticos no Audiovisual” tem coordenação geral de Georgia Patrícia Mendes da Silva e produção executiva de Marina Regueira Cardoso. Já o time do “Olhares Críticos” é formado por Lívia Oliveira Lopes (coordenação geral) e Thuanny Nascimento (produção executiva). Ambas as iniciativas têm produção de Júlia Morim, consultoria científica de Alex Vailati e apoio do Laboratório de Antropologia Visual (LAV) da UFPE.