Projeto inédito de curadoria internacional fica até março de 2026 no Museu Histórico Nacional; no Arquivo Nacional, haverá um seminário sobre o tema e uma exposição sobre mulheres negras; outras atividades culturais serão promovidas em museus e centros de memória da cidade

RIO DE JANEIRO (28.10.2025) – A exposição Para além da escravidão: construindo a liberdade negra no mundo, um inédito projeto de curadoria internacional, chega ao Rio de Janeiro no próximo dia 13 de novembro para refletir sobre as cicatrizes dos mais de três séculos de escravidão e a resistência negra por todo esse período. A mostra reúne museus de seis países e teve a estreia global em dezembro de 2024, no Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, em Washington. No Rio, estará no Museu Histórico Nacional, que será parcialmente reaberto para esta exposição, após reforma iniciada em dezembro do ano passado.

O projeto provoca o público a perceber que a escravidão e as relações coloniais não são assuntos do passado, pois seus efeitos perduram até hoje, ao mesmo tempo que afetam e conectam pessoas de todo o mundo. A iniciativa é, também, o componente central de um esforço global para que museus e instituições de pesquisa aprofundem o debate sobre uma história que não conhece fronteiras e que segue conectada ao passado.

Com entrada gratuita, a exposição poderá ser visitada até 1º de março de 2026. São cerca de 100 objetos, 250 imagens e 10 filmes, divididos em seis seções. Do Rio, o acervo seguirá para a Cidade do Cabo (África do Sul), Dakar (Senegal) e Liverpool (Inglaterra).

OUTRAS ATIVIDADES – O Arquivo Nacional e o Museu Histórico Nacional promoverão o seminário internacional Para além da escravidão: memória, justiça e reparação, com participação dos curadores da exposição, do presidente da Fundação Smithsonian e de especialistas brasileiros (dias 13 e 14 de novembro). O Arquivo Nacional também abrigará a exposição Senhora Liberdade: mulheres desafiam a escravidão. Montada com documentos, fotografias e vídeos do acervo da instituição, a mostra ficará aberta para visitação gratuita de 14 de novembro deste ano a 30 de abril de 2026.

Além disso, o Instituto Pretos Novos receberá a exposição Conversas Inacabadas, com depoimentos sobre escravidão, memória e resistência (de 14 de novembro a 15 de dezembro); e o Museu do Samba abrigará a mostra Arte delas: heranças ancestrais (de 15 de novembro até o fim de fevereiro do próximo ano).

A exposição do Museu Histórico Nacional e suas atividades correlatas no Brasil são resultado de uma parceria entre o Instituto Smithsonian (Museu Nacional de História e Cultura Afro-americana), a Universidade de Brown, a Universidade de Pittsburgh, o Museu Histórico Nacional, o Arquivo Nacional e o projeto Passados Presentes.

Keila Grinberg, coordenadora da atividade no Rio, lembra que a escravidão e as relações coloniais deixaram marcas na organização social, na economia e no jeito de pensar em várias partes do mundo. “A luta contra a escravidão deu origem a movimentos de resistência que buscam cidadania, exigem direitos e combatem o racismo”, resume Keila, que é professora do Departamento de História e diretora do Centro de Estudos para a América Latina da Universidade de Pittsburgh.

Para o professor de Museologia e diretor do Museu Histórico Nacional, Cícero Antônio Fonseca de Almeida, a escravidão e o colonialismo são temas centrais para entender a construção do mundo contemporâneo, especialmente nos antigos territórios ocupados por nações europeias entre os séculos 16 e 19. “Sem compreender esses fenômenos não entenderemos temas cruciais em nossas sociedades, como o racismo, ou o modelo de uso e exploração da terra. De uma forma geral, os museus negligenciam esses temas, pois, em sua origem, foram moldados a partir do ponto de vista das nações colonizadoras, funcionando como instrumentos de legitimação simbólica do colonialismo”, defende.

Mônica Lima, diretora-geral do Arquivo Nacional, lembra que a instituição, responsável pela preservação da memória do país, entende que eventos como a exposição e o seminário internacional são essenciais para promover a reflexão sobre o nosso passado e suas marcas no presente. "Ao valorizar a história e a resistência das mulheres negras, contribuímos para que todos compreendam a dimensão da escravidão e a importância da construção da liberdade na nossa sociedade. Os documentos sob a guarda do Arquivo Nacional nos permitem mostrar os registros desta luta, destacando o papel dessas mulheres como protagonistas", avalia.

SERVIÇO

Exposição | Para além da escravidão: construindo a liberdade negra no mundo. De 13/11/2025 a 01/03/2026. Museu Histórico Nacional (Praça Marechal Âncora, s/nº – Centro, Rio). De qua. a dom. (exceto feriados), das 10h às 17h. Entrada gratuita. Site: mhn.museus.gov.br

Exposição | Senhora Liberdade: mulheres desafiam a escravidão. De 14/11/2025 a 30/04/2026. Arquivo Nacional (Praça da República, 173 – Centro, Rio). De seg. a sex. (exceto feriados), das 8h às 19h. Entrada gratuita. Site: gov.br/arquivonacional

Seminário | Para além da escravidão: memória, justiça e reparação. Dias 13 e 14/11/2025, das 10h às 18h, com tradução simultânea. Arquivo Nacional (Praça da República, 173 – Centro, Rio). Programação: www.gov.br/arquivonacional. Participação presencial gratuita, com vagas limitadas. Inscrições: https://tinyurl.com/yh78xzv8. Transmissão ao vivo no Youtube (/ArquivoNacionalBrasil e /MuseuHistoricoNacional_Rio).

Exposição | Conversas Inacabadas. De 14/11/2025 a 15/12/2025. Instituto Pretos Novos (R. Pedro Ernesto, 32-34 – Gamboa, Rio). De ter. a sex., das 10h às 16h; sab., das 10h às 13h. Ter.: gratuito para brasileiros. Entradas: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Site: pretosnovos.com.br

Exposição | Arte delas: heranças ancestrais. De 15/11/2025 a fevereiro/2026. Museu do Samba (R. Visc. de Niterói, 1296 – Mangueira, Rio.). De ter. a sáb., das 10h às 17h. Entradas: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia). Site: museudosamba.org.br

IMAGENS – CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

01 – Mapa da Ilha de Gorée/Senegal

02 – Cartaz da Conferência Pan-Africana (1900)

03 – Objeto ritualístico de candomblé/Brasil

04 – Celebração em Coney Island/EUA (2022)

05 – Protesto do movimento Black Lives Matter/EUA (2021)

06 – Irmandade da Boa Morte/Brasil (1983)

07 – Manifestação do Movimento Negro Unificado/Brasil (1980)

08 – Venda de escravos na região do Cais do Valongo/Brasil

09 – Protesto contra o Apartheid em Soweto/África do Sul (1976)

10 – Capoeira/Ilustração criada por Pola Maneli para a exposição

11 – Congada/Ilustração criada por Pola Maneli para a exposição

12 – Conspiração Baiana/Bandeira criada por Nyugen E. Smith para a exposição