Pesquisa com DNA redesenha o mapa de origem do gato doméstico (IMAGENS)
Um estudo publicado na revista Science revela que os gatos que conviviam com humanos no Levante, na China antiga e no Egito antigo eram geneticamente diferentes dos gatos domésticos modernos.
Segundo a versão mais difundida, os seres humanos começaram a domesticar gatos no Levante, no início do período Neolítico, há cerca de 9.500 anos, quando iniciaram o cultivo de plantações.
Era uma necessidade prática manter por perto esses perfeitos caçadores de ratos. Foram esses predadores que eliminaram os roedores que atacavam os depósitos de grãos e as colheitas.
No entanto, um estudo recente, publicado na revista Science, examinou 87 genomas de felinos domésticos antigos e modernos e, como resultado, derrubou "completamente essa narrativa".
Os pesquisadores concluíram que os gatos domésticos, denominados Felis catus, originaram-se no Norte da África, e não no Levante, como se pensava anteriormente. Seus ancestrais eram intimamente relacionados ao gato selvagem africano, conforme aponta o artigo.
"Os felinos estabeleceram o 'pool' genético do gato doméstico moderno e parecem ter se espalhado pela Europa com a ascensão do Império Romano, há cerca de 2 mil anos", explica a publicação.
De acordo com outro estudo, publicado na revista Cell Genomics, o gato doméstico havia chegado à China por volta do ano 730 d.C., provavelmente acompanhando caravanas comerciais pela Rota da Seda.

Ao analisar o DNA de 22 ossadas de felinos descobertas na China ao longo dos últimos cinco mil anos, os pesquisadores revelaram que, até o ano 150 d.C., uma espécie totalmente diferente de felino, sem relação com o gato doméstico ou seu ancestral, viveu ao lado dos humanos.
Trata-se do gato-de-bengala, ou, em termos científicos, Prionailurus bengalensis, que conviveu com seres humanos por cerca de 3,5 mil anos, mas não foi totalmente domesticado.

Na opinião da pesquisadora da Universidade de Pequim, Shu-jin Luo, humanos e esses felinos mantinham uma relação "comensal", ou seja, mutuamente benéfica, mas não conseguiram coexistir por muito tempo devido à predileção dos animais por caçar galinhas criadas por pessoas.
"A relação comensal entre humanos e gatos-de-bengala eventualmente terminou, e os felinos retornaram aos seus habitats naturais, vivendo hoje como nossos vizinhos esquivos e ocultos", disse Luo.

Em relação ao antigo Egito, o professor de biologia da Universidade Washington em St. Louis, Jonathan Losos, afirmou que, apesar de os gatos terem desempenhado um papel importante na iconografia egípcia e sido tratados com honra, ainda não está claro se o Egito foi o local onde ocorreu a domesticação.
"No entanto, não está claro se a terra dos faraós foi onde todo o processo de domesticação ocorreu, ou se foi simplesmente a escola de acabamento onde caçadores de ratos se tornaram companheiros domésticos", afirmou Losos.
O especialista observou que ainda existe a possibilidade de que gatos selvagens tenham vivido entre os humanos, uma vez que filhotes de espécies selvagens podem ser domesticados com relativa facilidade.
