Diante do último silêncio

Estamos todos, cada um com seu passo, no seu ritmo, rumando para alguma direção que acreditamos ser a mais apropriada para realizarmos os nossos anseios, pouco importando quais sejam eles. E, independentemente das razões que fazem o nosso coração bater mais acelerado, impelindo o nosso caminhar, há uma coisa todos nós temos em comum: estamos todos, como nos lembra Martin Heidegger, rumando em direção à morte.
Sim, Cristo venceu a morte carregando o pesado fardo dos nossos pecados, mas Ele rumou na direção dela, abraçou-a, aceitou-a com mansidão, ensinando-nos a fazer o mesmo com a nossa vida.
Eu sei, todos nós sabemos, que é uma obviedade ululante que um dia teremos de encarar esse momento; estamos todos cientes dessa realidade, mas não queremos nem saber de tomar consciência disso.
Por isso, muitas e muitas vezes, vivemos a nossa vida como se não houvesse amanhã. Corremos atrás da realização de planos e projetos, muitas vezes de caráter duvidoso, como se a vida pudesse ser resumida na satisfação dos nossos desejos; como se não existissem consequências que estão para além da efemeridade da vida temporal.
De forma tola, incontáveis vezes ignoramos a morte, como se tal atitude desdenhosa fizesse com que ela, num passe de mágica, desaparecesse.
É por essa razão que Sêneca, e incontáveis outros sábios, afirmavam categoricamente que filosofar é meditar sobre a morte, porque é apenas diante dela que temos a real dimensão da vida humana e do sentido da existência.
Seguindo pelo mesmo trilho, Santo Afonso de Ligório ensina-nos que todo cristão deveria meditar e refletir sobre a sua própria morte, porque é diante do seu limiar que poderemos ter um vislumbre claro e inequívoco daquilo que iremos reverberar pela eternidade.
Por isso, quando estamos próximos da Paixão de Cristo, temos uma ocasião propícia para refletirmos sobre a nossa vida; reflexão essa que deve ser feita à luz da imagem de Nosso Senhor crucificado; meditação essa que deve partir das dores vilmente impingidas a Jesus Cristo, diante dos agônicos olhos de sua Santíssima Mãe.
Ao fazermos isso, ao nos colocarmos em nosso devido lugar diante do Infinito e frente ao Eterno, quem sabe, enfim, aprendamos que não são os nossos caprichos que devem ocupar o centro da nossa vida.