Laurentino Veiga

Comentando Carlos Drummond

Publicado em 26/04/2025 às 08:00
Laurentino Veiga

A prestigiada Editora Record, traz à tona o sétimo livro Claro Enigma do saudoso Carlos Drummond de Andrade que no Sumário, vê-se: Dissolução, Remissão, A ingaia ciência, Legado, Confissão, Perguntas em forma de cavalo-marinho, Os animais do presépio, Sonetilho do falso Fernando Pessoa, Um boi vê os homens, Memória, A tela contemplada, Ser, Contemplação no banco, Sonho de um sonho, Cantiga de enganar, Oficina irritada, Opaco e Aspiração.                

Vê-se em Dissolução: Escurece, e não me seduz / tatear sequer uma lâmpada/ Pois que aprouve ao dia findar, aceito a noite/ E com ela aceito que brote /uma ordem outra dos seres / a coisas não figuradas/ Braços cruzados/ Vazio de quanto amávamos/ mais vasto é o céu. Povoações surgem do vácuo/ Hábito alguma? E aquele agressivo espírito /que o dia carreia consigo/ já não oprime. Assim a paz/ destroçada.

A obra, por sua vez, mereceu o Posfácio de Mia Couto: “ Carlos Drummond de Andrade acreditava na inspiração. Para ele, a poesia iluminava o mistério. Mas do que isso, a palavra era a luz dentro do enigma. Não se tratava de decifrar o enigma, mas de ser esclarecido pelo abismo. O poema não resolve. Ele apenas supera essa falsa dualidade. Nos primeiros livros, Drummond encenava um confronto entre o mundo e a pessoa. Neste livro, essa batalha é assumida como assunto equivocado. As fronteiras que separam a realidade e o humano são fluídas e movediças. No final das contas, o homem veste-se com pele do mundo e o mundo só existe aos olhos do humano. O ferro de Itabira entranhou-se para sempre no chão das almas”.

A bem da verdade, o famoso poeta de Minas Gerais, cria através de sua imaginação e inspiração poemas que retratam o ontem, o hoje e projeta o futuro através das palavras bem escolhidas. Isto, é, nominam os motivos que leva o vate a criar o Claro Enigma. E o faz com precisão que o consagra na sua bem-sucedida trajetória nacional. Dele se tem a maior dimensão das letras embelezadas pelo seu maior talento - o poder - de elevar as coisas no seu diâmetro de finalizar o enredo de cada poema.

E ainda, em A Máquina Do Mundo: E como eu palmilhasse vagamente/ Uma estrada de Minas, pedregosa, e no fecho da tarde um sino rouco/ Se misturasse ao som de meus sapatos que era pausado e seco; e aves pairassem no céu do chumbo, e suas formas pretas / lentamente se fossem diluindo na escuridão maior, vinda dos montes e de meu próprio ser desenganado/ A máquina do mundo se entreabriu para quem de a romper já se esquivava e só de o ter pensado se carpia.

São 158 páginas recheadas de poemas imorredouros. Recomendo, pois, a leitura do livro em epigrafe, retratando o cotidiano do escritor que se fez grande na dimensão de seu talento. Carlos Drummond de Andrade, tornou-se o maior e melhor poeta de Minas Gerais, terra da liberdade e das ideias democráticas.