Câmara de Palmeira rejeita indicação para instalação de maternidade pública no Hospital Regional e expõe visão provinciana sobre saúde materna
Proposta do vereador Lúcio Carlos Medeiros, que previa criação de maternidade 100% SUS no Hospital do Médio Sertão, foi barrada por maioria sob alegações de proteção a hospital Santa Rita; postura gerou reação e revolta de setores da sociedade

A 13ª sessão ordinária da Câmara Municipal de Palmeira dos Índios, realizada na quarta-feira (4), terminou marcada por uma polêmica que tocou fundo no debate sobre a saúde pública materno-infantil na cidade. A Indicação nº 268/2025, de autoria do vereador Lúcio Carlos Medeiros, que apelava ao Governo do Estado de Alagoas e à Secretaria Estadual de Saúde para a instalação de uma maternidade pública no novo Hospital Regional do Médio Sertão, foi rejeitada pela maioria dos vereadores — gerando forte repercussão e críticas à postura conservadora da Casa.
A proposta visava estruturar no novo hospital — 100% financiado pelo SUS — um serviço completo de parto e atendimento às gestantes, o que reduziria a dependência do município em relação à atual maternidade local, ligada a uma entidade que deixou há muito tempo de exercer papel verdadeiramente filantrópico, funcionando hoje na prática como um hospital privado de perfil comercial.
O argumento da maioria: preservar o que já existe
Parlamentares que votaram contra a proposta alegaram que a instalação de uma maternidade pública poderia “afetar” a unidade já existente. A justificativa, considerada por populares como retrógrada e protecionista, foi duramente criticada por sua incapacidade de compreender o papel do Estado em garantir acesso universal e gratuito à saúde materna, sem intermediação de interesses privados.
“Estamos lidando com uma lógica perversa: prefere-se manter um modelo caro e excludente do que garantir à população uma maternidade pública de verdade, com atendimento digno, seguro e gratuito”, comentou uma fonte da área da saúde ouvida pela Tribuna do Sertão.
Uma cidade do porte de Palmeira precisa avançar
A rejeição da proposta é mais que um erro político: é um sintoma de uma mentalidade provinciana que insiste em tratar avanços estruturantes como ameaças, e não como oportunidades. Palmeira dos Índios tem crescido, regionalmente se consolidado, mas enfrenta ainda bolsões de resistência institucional que preferem a estagnação à transformação.
“Foi um dia triste para a história desta Câmara. A cidade precisa romper com o medo do novo e entender que ter uma maternidade pública estadual não é ataque a ninguém. É avanço civilizatório”, disse uma enfermeira obstétrica – que não pode revelar o nome - à Tribuna do Sertão.
O futuro exige coragem
A implantação de uma maternidade pública em um hospital regional recém-inaugurado, com estrutura moderna e cobertura total pelo SUS, não é uma ameaça: é uma obrigação do poder público. Quem se opõe a isso, escorado em argumentos de preservação institucional ou em vínculos velados com estruturas privadas, age contra o interesse coletivo.
A Tribuna do Sertão acompanhará os desdobramentos desse embate — e continuará dando voz à parcela da sociedade que não aceita ver a saúde materna ser tratada como objeto de disputa política, mas como um direito essencial de todas as mulheres e famílias de Palmeira e região.