Reportagem de Wadson Correia desmascara esquema milionário e corrupção no PT Alagoas
Tribuna do Sertão noticiou em outubro do ano passado em primeira mão esquema no diretório estadual do Partido dos Trabalhadores

Maceió, AL – Uma reportagem investigativa aprofundada do jornalista independente Wadson Correia, veiculada em seu canal "JORNALISMO INVESTIGATIVO - WADSON CORREIA", trouxe à tona um suposto esquema de desvio de dinheiro público e irregularidades financeiras que teriam gerado um "rombo milionário" nas contas do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) em Alagoas. A investigação detalha como o Fundo Partidário, que só este ano destinou quase R$ 2 milhões ao PT de Alagoas, teria sido utilizado de forma irregular, com "fortes indícios de corrupção do dinheiro público".
A reportagem revela que o partido enfrenta uma "impossibilidade de executar suas ações" devido a dívidas e multas. A gestão do presidente Ricardo Barbosa é questionada pela "tanta obscuridade em milhões de reais do Fundo Partidário, sem as devidas prestações de contas".
Irregularidades Chocantes e Envolvidos:
A Justiça Eleitoral identificou "situações absurdas", como transferências bancárias diretas para contas de membros da executiva e até secretários de estado. O esquema faria o dinheiro do fundo partidário "circular entre pessoas ligadas ao presidente Ricardo Barbosa".
Ricardo Barbosa (Presidente do PT em Alagoas): Recebeu "transferências misteriosas diretamente da conta do partido em altos valores", totalizando quase R$ 40.000 em transferências irregulares sem nenhum tipo de comprovação. Além disso, houve pagamentos para "serviços que nunca foram prestados", somando um prejuízo de quase R$ 35.000 em recursos públicos. Ele se recusou a comentar as acusações.
Guilherme Barbosa (Filho de Ricardo Barbosa): Advogado, recebeu "mais de meio milhão de reais do fundo partidário de forma aparentemente misteriosa" no ano passado. Seu contrato estaria "em desacordo com o próprio código de ética do PT", que proíbe a contratação de parentes de até segundo grau de membros da executiva. A Justiça aponta que ele começou a receber dinheiro do partido ainda como estagiário em uma espécie de "contrato de boca sem nenhuma formalidade legal", e não foi apresentado contrato de estágio que comprovasse a existência de programa de estágio remunerado. Atualmente, Guilherme Barbosa faz parte da comissão de ética do partido.
Carlos Dom Marcos da Silva (Secretário adjunto de organização): É citado em processos por ter recebido "dinheiro público de forma irregular" através de transferências diretas para sua conta pessoal. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), não houve a devida prestação de contas, e o partido foi condenado a pagar os valores novamente.
Gino César de Oliveira (Secretário de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos): Também recebeu "transferências bancárias direto da conta do PT de forma indevida". Além disso, a empresa dele, de sua esposa e irmão, recebeu "mais de meio milhão de reais do PT só na gestão Ricardo Barbosa". Ele não quis se defender das acusações.
Amélia Fernandes (Vice-presidente do PT e secretária de gestão interna da SEMÁ): Recebeu "transferências não comprovadas que somam mais de R$ 12.000". O partido alegou que seriam ressarcimento de despesas antecipadas, mas sem comprovar a relação com o fornecedor e extrato bancário. Ela também não quis se manifestar.
Mário Bispo (Tesoureiro do PT em Alagoas): Aparece recebendo "diversas transferências bancárias de valores da conta do partido sem nenhuma comprovação de despesas". Ele também contratou a própria empresa, Data Censos, para realizar pesquisas para o PT, pagando a ela quase R$ 300.000 nas últimas eleições. Um relatório do TRE apontou que, embora Mário Bispo tenha informado que apresentaria a lista de pesquisadores contratados, "nenhum documento como tais informações foi encontrado nos autos". O tesoureiro atribuiu a culpa da falta de prestação de contas ao escritório de contabilidade da época.

Ricardo Barbosa, presidente do PT, da ala do deputado Paulão é acusado no esquema
Contabilidade Problemática e Multas Milionárias:
A reportagem de Wadson Correia conseguiu contato com a pessoa responsável pela contabilidade do PT estadual por vários anos, que confirmou "situações absurdas com dinheiro público". Ela relatou que "todo dia tinha uma despesa diretamente eh mandando eh recursos financeiros do partido para a conta do tesoureiro pra conta do presidente e para a conta de membros da da executiva", tornando "difícil comprovar esses gastos". A investigação aponta que até "despesas do sindicato dos urbanitários" e "coroas de flores para falecidos" estavam sendo apresentadas como gastos do PT, numa tentativa ilegal de amenizar o pagamento de contas reprovadas, o que configura "desvio de finalidade".
As multas decorrentes dessas irregularidades "ultrapassam R$ 1 milhão de reais", divididas em 60 parcelas, o que está "inviabilizando a operacionalidade do partido". Uma nova empresa de contabilidade, a Sistêmica Assessoria Contábil, foi contratada e já recebeu mais de meio milhão de reais em 2024.
Intimidações e Investigações em Andamento:
Durante a apuração, a equipe de Wadson Correia enfrentou "intimidações para impedir o trabalho jornalístico". Um membro da executiva tentou intimidar a equipe, e o esposo de Dafne Orion, candidata ligada ao grupo de Ricardo Barbosa, exigiu a saída da equipe da recepção da sede do PT. Em resposta à presença do jornalista, o partido chegou a soltar uma "nota oficial descabida, mentirosa, intimidatória", alegando que a sede foi invadida e que a equipe ameaçou funcionários e dirigentes, sem mencionar que o objetivo era questionar a utilização indevida do dinheiro público.
A Polícia Federal já iniciou as investigações após denúncias protocoladas. Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou o processo das irregularidades do Fundo Partidário e da contratação do escritório do filho de Ricardo Barbosa para a promotoria da segunda zona eleitoral, a fim de "apurar crimes na esfera penal". O documento foi assinado pelo procurador regional eleitoral Marcelo Jatobá Lobo.
Em contato com o diretório nacional do PT, a reportagem foi informada de que a sigla só pode afastar os envolvidos se for provocada pela própria executiva investigada. A situação se agrava pelo fato de que Guilherme Barbosa, filho do presidente, faz parte da comissão de ética do partido.
A sede do PT em Alagoas, que funciona em uma casa sem sede própria, diferente de outros estados, já sofreu "sete arrombamentos misteriosos".