DIREITO AO PARTO HUMANIZADO

Especialistas defendem informação e ampliação da anestesia como medidas para reduzir cesarianas

Audiência na Câmara discute acesso à analgesia e educação para garantir escolhas conscientes e seguras no parto.

Publicado em 02/12/2025 às 18:17
Especialistas debatem ampliação da anestesia para reduzir cesarianas e promover parto humanizado no Brasil. Vinicius Loures / Câmara dos Deputados

A autonomia da mulher sobre as decisões relativas ao parto foi tema central de debate na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Em audiência pública, especialistas discutiram a ampliação da anestesia peridural como estratégia para reduzir o elevado índice de cesarianas no Brasil.

Uma parceria com a França propõe que as gestantes tenham acesso à informação e à analgesia durante o parto, promovendo a humanização e o conforto nesse momento.

Atualmente, a cesariana responde por 57% dos nascimentos no país. Muitas gestantes optam pela cirurgia devido ao medo da dor. Para a professora Mônica Almeida Neri, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, a analgesia pode ser uma alternativa eficaz para diminuir o número de cesarianas, que representam riscos tanto para a mãe quanto para o bebê.

“A dor do parto é muito glorificada, é muito naturalizada. Até o poeta fala: 'Mãe que é mãe no parto sente dor'. Mas não é assim, não podemos mais ter esse pensamento”, afirmou. “Precisamos disponibilizar métodos não farmacológicos que a mulher possa aceitar e, se não estiver confortável, garantir acesso ao método que lhe proporcione conforto nesse momento tão importante.”

Os participantes também ressaltaram a importância da educação e de um pré-natal de qualidade, para que as mulheres possam fazer escolhas informadas e autônomas sobre o parto.

Gerenciamento da dor
A vice-presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras, Elisiane Gomes Bonfim, destacou que apenas metade das gestantes conhece métodos naturais para o controle da dor durante o parto.

Elisiane defende o aumento do número de enfermeiras obstétricas e parteiras, tanto no sistema público quanto no privado, como ocorre em outros países.

“Não queremos substituir métodos não farmacológicos, que segundo a literatura não apresentam efeitos adversos, por uma oferta indiscriminada de métodos farmacológicos. É fundamental garantir a disponibilidade da analgesia, mas, antes, oferecer acesso aos métodos não farmacológicos”, pontuou.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também defendeu a disseminação de informações como essencial para humanizar o parto no país.

“É um tema de saúde pública que envolve a saúde da mulher, a segurança dos partos e o custo para o Sistema Único de Saúde. Se a mulher está em condições ideais e teve um pré-natal adequado, o parto natural é o melhor. Mas não podemos dizer que o parto bom é o parto em que a mulher sente dor. Essa visão é ultrapassada. Se a ciência evoluiu para oferecer anestesia segura e eficaz, por que não utilizá-la?”, questionou.

A audiência pública foi requerida pela deputada Lídice da Mata (PSB-BA) e presidida pelo deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).