Amigos e familiares destacam o legado de Cacá Diegues

O corpo do cineasta Cacá Diegues foi cremado na tarde deste sábado (15/2) no cemitério do Caju, zona portuária do Rio, em noite fechada. Mais cedo, familiares, amigos e admiradores foram apresentados no velório, aberto ao público, realizado no salão do Petrit Trianon, palácio centenário, sede da Academia Brasileira de Letras (ABL). Diegues ocupou a cadeira de número 7 da ABL, eleito em 2018, sucedendo o colega cineasta Nelson Pereira dos Santos, que morreu no mesmo ano.
A filha Isabel Diegues conta que o pai era um idealista, sempre curioso com o futuro, e que considera que o legado deixado por Cacá é o de um grande pensador da cultura brasileira.
“Ele cresceu querendo conhecer, descobrir e lançar a luz sobre um Brasil que era o Brasil que lhe interessava. E eu acho que ele era de alguma maneira um idealista, no sentido de se lançar sempre para o futuro. E aí eu acho que a importância dele para a cultura brasileira é imensa. Eu acho que ele fincou pé em promover, pensar, inventar uma cultura para o Brasil e uma cultura original, misturada, uma cultura da alegria.”
Entre os amigos que se despediram, a atriz Glória Pires lembra que não participou de nenhum filme que Diegues fez, mas conta que ele se tornou um amigo e que foi muito impactado pela sua obra.
“Tem dois filmes que marcaram a minha vida, 'Bye Bye Brasil', 'Chuvas de Verão'. Ele, eu conheci, um grupo de amigos, a gente participou de alguns eventos onde o Cacá trazia informações sobre filosofia, sobre cinema, sobre criação. Um cara muito combativo, né? Um cinema de denúncia, de crítica, mas ele é uma pessoa muito afetuosa e muito inclusiva também.”
O jornalista Ruy Castro destacou que Diegues foi um grande incentivador do cinema brasileiro e que seu legado vai além de sua atuação como cineasta.
“Sempre acreditei no cinema brasileiro. Em várias épocas o cinema brasileiro teve realmente muito para baixo. Destruído pelo Collor, pelo mercado, pelos configurados principalmente. O Cacá sempre esteve lá na linha da frente, nunca deixou de filmar. Então nós temos uma dívida muito grande com ele. E aí a relação, a herança, o legado dele, espero que em breve comece a ver um pouco mais de atenção para essa coisa dele como um pensador do Brasil.”
O cantor Gilberto Gil lembrou que teve várias colaborações com Cacá Diegues, sendo a última a trilha sonora da continuação do filme ‘Deus é Brasileiro’, que tem previsão de estreia em outubro deste ano. Gil falou do lado profissional e de sua visão pessoal do amigo, com quem convivia também como acadêmico da ABL.
"Uma obra construída com tanto talento e tanto gosto, tanto compromisso com a interpretação e a reinterpretação permanente do significado do país, da nação, enfim, um homem doce, um homem muito tranquilo. Isso também pesa em tempos de hoje. Isso é um valor extraordinário. Sempre foi, mas é muito mais ainda hoje. Então tem isso. É uma pessoa que deixa muita saudade."
Cacá Diegues teve três filhos e uma enteada. Dois do casamento com a cantora Nara Leão, e dois com Renata Magalhães, com quem foi casada, além de quatro netos.
