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Pesquisador é diplomado para a Academia Brasileira de Ciências

Edeildo Ferreira da Silva Júnior desenvolve estudos sobre fármacos contra o vírus Zika em gestantes

Por Diana Monteiro - jornalista Publicado em 03/10/2025 às 12:54
Edeildo Ferreira da Silva Júnior desenvolve estudos sobre fármacos contra o vírus Zika em gestantes

O Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) é destaque no mundo científico com a diplomação do professor Edeildo Ferreira da Silva Júnior para a Academia Brasileira de Ciências (ABC), regional Nordeste e Espírito Santo 2025-2029. O docente está entre os novos membros afiliados para a área de Química.

Concorrendo com candidaturas de todo o país, o pesquisador foi o vencedor com o estudo que objetiva desenvolver futuros fármacos dedicados à ação antiviral contra Zika vírus (ZIKV) em gestantes para possível uso ainda durante a gestação. A linha de pesquisa que culminou com a seleção do professor Edeildo para a ABC foi criada e consolidada na Ufal e vem sendo desenvolvida no Laboratório de Química Biológica e Molecular do IQB, unidade acadêmica do Campus A. C. Simões, em Maceió. O trabalho foi apresentado no simpósio da Academia Brasileira de Ciências, em setembro, no auditório do Instituto de Pesquisa em Petróleo e Energia (LITPEG) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em Recife, e reuniu pesquisadores de todo o país.

O estudo conta com parcerias nacionais e internacionais, em que o docente enfatiza que a linha de pesquisa em desenvolvimento de antivirais é relevante e vem destacando o grupo do IQB da Ufal como um dos poucos do cenário científico que realiza trabalho com esse objetivo. Segundo Edeildo, os estudos em andamento resultaram no desenvolvimento pioneiro de acrilamidas como inibidores competitivos da replicação do ZIKV. “Estes avanços científicos foram devidamente documentados e divulgados por meio de publicação em uma revista especializada na área de Química e, adicionalmente, resultaram no depósito de uma patente. Atualmente, o grupo de pesquisa continua direcionando sua atenção para o desenvolvimento de agentes antivirais destinados a combater especificamente o ZIKV, só que agora focado na população gestante”, reforça.

De acordo com o pesquisador, resultados de experimentos recentes, embora ainda não publicados, sugerem um composto candidato com notável potencial farmacêutico. E explica: “Este composto demonstrou eficácia na supressão do ZIKV em placenta humana infectada, mantendo níveis reduzidos de toxidade, mesmo em doses elevadas. Esta descoberta é particularmente inovadora, dado que, até o momento, não existem agentes farmacêuticos aprovados, especialmente formulados para serem seguros e eficazes em gestantes”.

E aproveita para complementar: “Tal achado é extremamente importante para o Brasil, uma vez que o país lidera nos casos de microcefalia causada pelo ZIKV, principalmente por ser o vírus considerado endêmico devido ao clima tropical, essencial para o seu vetor. Ademais, o Grupo de Química Biológica e Molecular tem a missão de contribuir para o desenvolvimento de um protótipo de fármaco brasileiro que possa erradicar o vírus do país, melhorando a qualidade de vida da população mais vulnerável”.

A pesquisa conta com as parcerias dos professores Alexandre Borbely (Ufal), Rafael Azevedo (UPE, Garanhuns), Vanda Santos (UEPB, Campina Grande), Shailly Tomar (Instituto de Tecnologia de Roorkee, Índia), Tanja Schirmeister (Universidade Johannes Gutenberg – Mainz, Alemanha) e Richard Bowen (Universidade do Estado do Colorado, EUA). Também conta com a participação dos estudantes de iniciação científica dos seguintes cursos: Ellen Leite (Farmácia), Kethellyn Gabriele (Química), da mestranda Wadja Feitosa e do doutorando Leandro Silva, ambos do Programa de Pós-graduação de Química e Biotecnologia (PPGQB), que tem coordenação atual do professor Edeildo.

Busca por alternativas terapêuticas no combate ao vírus Zika

Edeildo Ferreira é membro da ABC desde o primeiro semestre deste ano e vem se dedicando a manter uma atuação ativa dentro daquilo que acredita ser o papel de cada pesquisador: continuar investigando, produzindo conhecimento e compartilhando os resultados sempre que possível. “Para mim, não basta apenas desenvolver pesquisas, mas também divulgá-las, de modo que possam inspirar outros cientistas, fortalecer a ciência brasileira e, quem sabe, se transformar em soluções reais para a sociedade. Minha principal motivação tem sido a busca por alternativas terapêuticas no combate ao vírus Zika”, afirmou.

Aproveita para ressaltar que, desde que se descobriu a relação entre a infecção em gestantes e a ocorrência de microcefalia em recém-nascidos, carrega consigo a esperança de que um dia possa contribuir para o desenvolvimento de um fármaco antiviral capaz de prevenir esse tipo de consequência tão grave. “Esse sonho é o que me move a seguir em frente, mesmo diante das dificuldades enfrentadas pela pesquisa científica no Brasil. Acredito que cada pequena conquista, cada dado obtido e cada divulgação realizada representam uma semente lançada em prol do avanço científico. Minha participação na Academia Brasileira de Ciências tem me proporcionado exatamente isto: a oportunidade de não apenas aprender, mas também de somar esforços para que a ciência no nosso país continue crescendo, com impacto direto na vida das pessoas. Por fim, inspirando outros jovens que poderão vir a se tornar os próximos cientistas”.

Enaltece o simpósio promovido pela ABC, cuja programação, além da cerimônia de diplomação, teve como dinâmica as apresentações de trabalhos e temas contemporâneos de membros titulares, seguida das apresentações dos novos membros afiliados. “Foi muito bom também assistir às apresentações, conhecendo um pouco sobre seus trabalhos e suas áreas de atuação. Agradeço à professora Marilia Goulart [IQB] e membro-titular da ABC pela indicação do meu nome para concorrer, dentre todas as candidaturas do Brasil, na área na qual fui diplomado”, destacou o pesquisador.

“Esse título não apenas valida a relevância do meu trabalho, mas também reforça meu compromisso com a excelência acadêmica e com a produção de conhecimento de impacto. É uma oportunidade única de integrar um círculo seleto de pesquisadores, que contribuem ativamente para o avanço da ciência no Brasil e no mundo. Minha atuação junto à Academia será pautada pelo engajamento em iniciativas que promovam a ciência, a inovação e a formação de novas gerações de pesquisadores”.

Para mais informações sobre a Academia Brasileira de Ciências (ABC), acesse este link .

Êxito acadêmico

Edeildo Ferreira fez toda a carreira acadêmica e científica na Ufal, onde se graduou em Farmácia. Na continuidade de sua formação, concluiu mestrado pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), seguido do doutorado em Química e Biotecnologia, pelo PPGQB, com ‘período sanduíche’ na Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, na Alemanha.

Foi durante o mestrado que disse ter despertado para a área em que atua, a de Química Medicinal. Na sua exitosa trajetória acadêmica, tece agradecimentos e destaca importantes referências de pesquisadores da instituição alagoana. Cita como exemplos os professores João Xavier de Araújo Júnior e Thiago Mendonça de Aquino, ambos seus orientadores de mestrado e doutorado. “Sempre tive bons mentores que me incentivaram ao máximo para continuar no caminho da pesquisa, sempre acreditando que eu poderia vir a ser um destaque no cenário nacional”, reconhece.

No IQB, Centro de Tecnologia (Ctec) e Instituto de Ciências Farmacêuticas (ICF), Edeildo costuma lecionar as disciplinas Química Orgânica 1 e 2. Na pós-graduação, no PPGQB, leciona as disciplinas Redação de artigos científicos e Planejamento racional de fármacos e compostos bioativos. Já no Programa Renorbio e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (PPGCF), é professor de Bioinformática.

Publicações e contribuição

O pesquisador também é autor de livro, possui mais de 100 artigos publicados e mais de vinte capítulos em livros internacionais. Edeildo tem dez patentes depositadas e duas concessões. Destacam-se também, em sua trajetória de pesquisador, as diversas parcerias internacionais na linha de desenvolvimento de fármacos contra doenças tropicais negligenciadas, a exemplo das parcerias firmadas para estudos sobre Trypanosoma cruzi e T. brucei, com pesquisadores dos Estados Unidos; vírus Zika e dengue, com a Alemanha; vírus influenza e HIV, com a China; vírus Chikungunya, com a Índia; e Tirosinase melanoma, com a Polônia. Atua também como editor em edições especiais de periódicos internacionais de alto impacto na área de Química Medicinal.

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