Projeto arqueológico investiga como primeiros agricultores europeus lidavam com o lixo
Pesquisa revela que comunidades neolíticas armazenavam resíduos próximos às moradias, indicando novas relações de propriedade e reaproveitamento de objetos
Um novo projeto arqueológico busca desvendar como o lixo produzido no período Neolítico pode ajudar a compreender a adaptação dos primeiros agricultores europeus a um estilo de vida mais sedentário.
Ao contrário dos grupos caçadores-coletores, essas comunidades, estabelecidas há cerca de 8 mil anos, passaram a acumular objetos e resíduos do cotidiano e, pela primeira vez, precisaram criar estratégias para lidar com o acúmulo de lixo. Em vez de afastar os resíduos das moradias, como ocorre atualmente, esses povos frequentemente os armazenavam em fossas dentro de seus próprios terrenos.
A professora Penny Bickle, do Departamento de Arqueologia da Universidade de York (Reino Unido), destaca que essa prática pode revelar uma relação distinta com o descarte.
"Manter o lixo perto de casa pode sugerir um senso de propriedade, talvez eles se sentissem responsáveis por seus resíduos", afirmou.

Bickle acrescenta que alguns itens poderiam ser reaproveitados, ressaltando que nem todas as culturas veem o lixo como algo a ser descartado longe de casa.
O projeto, liderado por especialistas da Universidade de York e da Universidade Livre de Berlim, emprega técnicas avançadas para identificar, por exemplo, cerâmicas que foram reutilizadas. Para o pesquisador Bruno Vindrola-Padros, da Universidade de Quiel (Alemanha), o comportamento desses povos pode ter também uma dimensão afetiva.
"Alguns objetos carregam significados que vão além do uso prático, como vemos em rituais funerários", explicou.
Ele ressalta que compreender essas atitudes antigas pode transformar a maneira como pensamos o lixo atualmente.
Os cientistas estudarão quatro sítios arqueológicos entre os Bálcãs e o Báltico, analisando cerâmicas e ossos de animais para reconstruir a trajetória desses objetos, desde o uso inicial e o reaproveitamento até o descarte final.
A professora Henny Piezonka, da Universidade Livre de Berlim, acredita que os primeiros agricultores não encaravam o lixo como um problema, como acontece hoje. Por isso, os pesquisadores pretendem investigar mais a fundo essa questão, buscando entender os desafios de manter resíduos próximos às moradias, bem como as oportunidades de reparar, remodelar, reaproveitar e reutilizar esses materiais.
Por Sputnik Brasil