Sinal raro pode revelar buracos negros primordiais formados nos instantes após o Big Bang
Evento S251112cm, detectado por LIGO-Virgo-KAGRA, pode ser indício inédito de buracos negros originados nos primórdios do Universo, mas confirmação ainda depende de novas evidências
Cientistas anunciaram a detecção de um sinal raro de onda gravitacional que pode indicar a existência de buracos negros primordiais, formados nos momentos iniciais após o Big Bang. Caso a descoberta seja confirmada, o evento S251112cm representará um marco inédito na compreensão dos primeiros instantes do Universo.
Os buracos negros primordiais, teorizados há décadas, seriam objetos extremamente pequenos, com dimensões que variam do tamanho de uma moeda até frações de um átomo. A possível detecção ocorreu por meio de ondas gravitacionais captadas pelos detectores LIGO e Virgo, que registram ondulações no tecido do espaço-tempo.
A colaboração internacional LIGO-Virgo, em operação desde 2012, já identificou diversas fusões de buracos negros e colisões de estrelas de nêutrons. No entanto, em 12 de novembro, um alerta emitido pela parceria LIGO-Virgo-KAGRA chamou a atenção ao sinalizar um evento atípico. O sinal, batizado de S251112cm, sugere a presença de um objeto com massa muito inferior à observada em buracos negros de origem estelar ou em estrelas de nêutrons.
A física teórica Djuna Croon afirmou à revista Science que, se confirmado, esse evento teria impacto significativo, pois não se encaixa nos processos astrofísicos convencionais. Apesar disso, há margem considerável para erro. Christopher Berry, da equipe LIGO, classificou o sinal como um candidato intrigante de massa subsolar, mas ponderou que pode ser apenas ruído nos detectores, já que a taxa de alarmes falsos para esse tipo de evento é relativamente alta.
Buracos negros primordiais permanecem como uma hipótese fascinante, mas ainda não foram detectados de forma conclusiva. Diferem dos buracos negros de massa estelar, que resultam do colapso de estrelas massivas, e dos supermassivos, presentes nos centros das galáxias. Acredita-se que os primordiais tenham se formado diretamente de regiões densas do plasma inicial do Universo, logo após o Big Bang.
Esses objetos podem apresentar massas extremamente variadas, desde frações minúsculas até centenas de milhares de vezes a massa do Sol. Por não dependerem de estrelas para sua formação, são chamados de "buracos negros não astrofísicos". Caso existam, podem desempenhar papel crucial na evolução cósmica e até ajudar a explicar a misteriosa matéria escura, que compõe cerca de 85% da matéria do Universo e não interage com a luz.
A teoria de Stephen Hawking sugere que buracos negros emitem radiação e evaporam lentamente ao longo do tempo. Assim, buracos negros primordiais muito leves teriam desaparecido rapidamente, enquanto os mais massivos ainda poderiam existir e evaporar atualmente. Essa possibilidade mantém ativa a busca por sinais que comprovem sua existência.
O evento S251112cm, caso seja real, não encontra explicação entre os corpos astrofísicos conhecidos. Os cientistas buscam sinais eletromagnéticos associados, mas a vasta região do céu envolvida dificulta a investigação. Até o momento, resta apenas o registro da onda gravitacional, cujo padrão pode revelar pistas sobre os objetos envolvidos. Apesar disso, a incerteza permanece, e muitos especialistas consideram improvável uma confirmação definitiva sem novas detecções semelhantes.
Por Sputnik Brasil