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No Xingu, cacique Raoni aconselha Lula a indicar sucessor e não explorar Margem Equatorial

Por Sputinik Brasil Publicado em 04/04/2025 às 16:47
© flickr.com / Ricardo Stuckert / PR

Em visita à Terra Indígena Capoto-Jarina, no Parque Nacional do Xingu, em Mato Grosso, nesta sexta-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ouviu conselhos e críticas do líder indígena kaiapó, cacique Raoni, conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas.

"Quero pedir ao senhor para pensar no seu sucessor, que tem que ser o próximo presidente da República, para continuar seu trabalho de proteger os povos indígenas e o nosso território", disse o intérprete de Raoni que falou no seu idioma, kaiapó.

Ele também criticou a intenção do governo federal de explorar petróleo e gás natural nas águas profundas da região conhecida como Margem Equatorial, localizada a 570 quilômetros da foz do rio Amazonas.

"Estou sabendo que, na Foz do Amazonas, o senhor está pensando no petróleo que tem lá debaixo do mar. Eu penso que não [deveria explorar]. Porque essas coisas, da forma como estão, garantem que a gente tenha um meio ambiente, a terra com menos poluição e menos aquecimento", disse o cacique. "Se isso acontecer, eu sou pajé também. Eu já tive contato com os espíritos, que sabem dos riscos que a gente tem de continuar trabalhando dessa forma, de destruir e destruir e destruir", concluiu ele.

O cacique, que subiu a rampa ao lado de Lula no dia da posse em 2023, também fez críticas ao presidente:

"Estive pessoalmente com o presidente Lula convidando para ele vir para nossa aldeia, e ele me disse que viria, mas não veio. Eu encontrei com ele novamente e convidei mais uma vez, ele falou que viria, e não veio. Aí na terceira vez, falei: presidente, preciso que o senhor venha para minha aldeia, e agora ele está aqui".

O encontro foi transmitido pelo site oficial do governo. Em seu discurso, Lula afirmou que assegurar os direitos indígenas é prioridade absoluta do governo, demarcando e homologando terras.

"Sabemos que ainda há muito a ser feito, mas as nossas políticas convergem nesse sentido de assegurar integralmente os direitos indígenas. Sempre enfrentando os desafios, que são muitos e precisam ser tratados de forma negociada, com diálogo e transparência. E vale lembrar. Não fazemos mais do que garantir o que prevê a Constituição", declarou o presidente.

Lula também criticou quem "reclama" que indígenas têm muita terra no Brasil, que equivale a 14% do território, segundo ele:

"Não devem se esquecer que, um dia, os indígenas tinham 100% do território nacional e, portanto, têm direito de reivindicar, brigar e conquistar quantas terras forem necessárias para manter o povo indígena, sua cultura e sua tradição", declarou.

Na ocasião, o presidente condecorou Raoni com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito, a mais alta honraria brasileira.

"Guerreiro incansável na defesa dos povos indígenas, do meio ambiente e da Amazônia, nosso querido Raoni segue ativo em sua nobre missão. [...] Não existe na face da terra nenhum homem, nenhum presidente, nenhum rei mais representativo do que o nosso querido Raoni", elogiou Lula.