Zelensky e UE 'dificilmente' vão respeitar acordo promovido entre Trump e Putin, diz analista

É provável que a União Europeia (UE) e o ucraniano Vladimir Zelensky não respeitem um possível acordo que venha a ser firmado entre os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos Estados Unidos, Donald Trump, no encontro bilateral desta sexta-feira (15), afirmou à Sputnik o político e analista uruguaio Ismael Blanco.
"Sou pessimista quanto ao fato de que os líderes do Ocidente, da UE e, sobretudo, aqueles que hoje estão no comando político da Ucrânia respeitem qualquer acordo entre Trump e Putin. Essa é minha única dúvida e minha única tese para que este acordo fracasse, não por causa das partes que se reúnem, mas por causa daqueles que não estarão nesse encontro", disse Blanco.
Blanco afirmou ainda que Zelenski fez "todo o possível" para que fracasse qualquer tipo de negociação que envolva o início de um processo de paz.
"Esta cúpula é um grande passo rumo ao que poderia ser uma saída para o conflito que a OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] impôs à Rússia na Ucrânia. Mas os alertas surgem a partir do posicionamento do restante da UE, já que seus líderes têm agido nos últimos anos mais como belicistas do que como representantes de uma união econômica", destacou.
De qualquer forma, caso avance o acordo entre Putin e Trump, "aqueles que não adotarem uma política de distensão terão um custo político muito alto e entrarão em uma fase de importante decomposição. Perante a opinião pública internacional, ficará claro quem quer a paz e quem não quer", afirmou.
Trump e Putin têm reunião prevista para a próxima sexta-feira (15), no Alasca, em meio a alertas vindos de Moscou sobre provocações preparadas pela Ucrânia para minar as conversas entre os líderes.
Por sua vez, os líderes da UE se comprometeram nesta terça (12) a manter as sanções contra a Rússia e introduzir novas restrições para alcançar "uma paz justa e duradoura e segurança para a Ucrânia".
Indústria militar é obstáculo para a paz na Ucrânia?
Por outro lado, Blanco considerou que outro obstáculo para a paz na Ucrânia são os interesses do complexo militar-industrial do Ocidente. "A indústria militar tem sido o fator predominante. Não vê como atrativa a finalização do conflito", ressaltou o dirigente.
Apesar da disputa dentro do próprio governo dos EUA, entre setores "belicistas" e aqueles que pretendem encerrar o conflito, Blanco considerou "positivos" os esforços de mediação impulsionados por Trump, mesmo com o "estilo confuso e contraditório".
"Não há um caminho claro e linear em suas declarações, e suas ameaças também não contribuem para criar o melhor clima. Acho que a Rússia entende isso, tem clareza sobre isso, sabe qual é o estilo dessa liderança, lida com ele, mas, no fim das contas, o mais importante é que, apesar de todas essas contradições, existe um parceiro, uma contraparte que, depois de três anos, está disposta a sentar-se com Putin para tentar encontrar um ponto de encerramento do conflito. Portanto, nesse sentido, considero positivo", concluiu.
Tentativa de sabotagem do encontro
Para a chefe do Centro Africano de Segurança e Estudos Estratégicos, Badra Gaaloul, a Ucrânia pode estar preparando um grande ataque e causando baixas com apoio europeu direto, já que as relações do continente com os Estados Unidos estão em crise.
Além disso, Gaaloul observou à Sputnik que Washington pode priorizar ações midiáticas em vez de apresentar soluções concretas e duradouras, já que Kiev atua integrada a um sistema ocidental que não busca estabilidade nem paz real.
O especialista cubano Yosmany Fernández Pacheco, do Instituto Superior de Relações Internacionais Raúl Roa García, avaliou à Sputnik que a Ucrânia não possui meios legais ou diplomáticos para impedir o encontro, mas recorre a provocações para criar um clima desfavorável.
Pacheco destacou que Kiev já sinalizou publicamente seu interesse em sabotar o diálogo e que, com apoio europeu, pode recorrer à desinformação — inclusive usando jornalistas estrangeiros — para atribuir crimes ao Exército russo e distorcer seus objetivos. Pacheco apontou que ações semelhantes já foram vistas no passado e que esta nova ofensiva busca manipular a opinião pública ocidental, retratando Moscou como contrária à paz.
Já o cientista político William Serafino destacou à Sputnik que Zelensky enfrenta um momento politicamente delicado antes da cúpula no Alasca, necessitando de um "momento decisivo" para fortalecer sua posição. Segundo ele, a situação das forças ucranianas é crítica e a insatisfação popular com a guerra cresce. Nesse contexto, provocar tensões pode servir para aumentar o custo político de qualquer acordo que Putin e Trump venham a firmar.
Por fim, o especialista em relações internacionais Oswaldo Espinoza afirmou à Sputnik que serviços de inteligência europeus, como o britânico MI6, fariam todo o possível para inviabilizar o encontro. Conforme Espinoza, as elites globalistas estão incomodadas por perderem influência na Casa Branca e por verem líderes europeus com menos espaço no cenário internacional.
Por Sputinik Brasil