ACIDENTE AÉREO

Avião que caiu no Pantanal fazia voo ilegal e não podia transportar passageiros

Queda ocorreu após tentativa de pouso fora do horário permitido; quatro pessoas morreram, incluindo renomado arquiteto chinês

Por Vanessa Lima Publicado em 25/09/2025 às 10:48
Foto/Reprodução

Quatro pessoas morreram na noite da última terça-feira (23) após a queda de um avião de pequeno porte na região da Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana (MS), no Pantanal. Segundo o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), a aeronave realizava um voo irregular, fora do horário autorizado e sem permissão para transporte remunerado de passageiros.

Testemunhas relataram que o avião sobrevoou a região durante todo o dia, realizando diversos pousos e decolagens. Conforme as autoridades, a pista da fazenda só poderia ser utilizada até as 17h39, mas o acidente aconteceu após as 18h. A aeronave tinha autorização apenas para voar durante o dia sob regras visuais (VFR Diurno) e não contava com equipamentos adequados para voos noturnos ou em condições meteorológicas adversas.

De acordo com a investigação, a Polícia Civil apura se o voo fazia parte de um serviço clandestino de táxi-aéreo. O piloto e dono da aeronave, Marcelo Pereira de Barros, já havia sido alvo da Operação Ícaro, em 2019, por transporte irregular de passageiros. Na ocasião, o avião — um Cessna 175, fabricado em 1958 — chegou a ser apreendido por irregularidades e adulterações em sua identificação. Liberado três anos depois, o modelo recebeu autorização apenas para uso particular, sem permissão para táxi-aéreo.

As vítimas da tragédia foram identificadas como o renomado arquiteto chinês Kongjian Yu, o documentarista Luiz Ferraz, o diretor de fotografia Rubens Crispim Jr. e o próprio piloto. Eles estavam no Pantanal para a gravação de um documentário sobre cidades-esponjas, projeto que vinha sendo desenvolvido por uma produtora brasileira.

Testemunhas afirmaram que a aeronave tentou pousar, arremeteu e logo depois desapareceu. O avião caiu cerca de 100 metros antes da pista e explodiu ao atingir o solo. Todos os ocupantes morreram carbonizados. A hipótese inicial de que o piloto teria desviado de uma manada de queixadas (porcos-do-mato) foi descartada pela delegada Ana Cláudia Medina, que confirmou que não havia animais na pista no momento da aproximação.

Após a queda, funcionários da fazenda usaram um trator e um caminhão-pipa para tentar conter o fogo. Equipes do Dracco e do Cenipa isolaram a área e deram início às investigações. A apuração busca identificar a causa do acidente, analisando fatores como as condições do voo, o desempenho da aeronave e possíveis falhas na operação.

A tragédia chamou atenção nacional por envolver um dos arquitetos mais influentes do mundo e reacendeu o debate sobre a fiscalização de voos particulares e clandestinos no Brasil.