ARGENTINA

Milei tenta conter queda do peso enquanto argentinos exploram brechas cambiais criativas, diz mídia

Por Sputinik Brasil Publicado em 05/10/2025 às 10:07
© AP Photo / Natacha Pisarenko

Javier Milei enfrenta forte pressão cambial às vésperas das eleições de meio de mandato, enquanto operadores argentinos exploram brechas nas regras para lucrar com a arbitragem entre câmbios. A escassez de reservas, a volatilidade do peso e a criatividade do mercado desafiam as tentativas do governo de conter a crise.

O presidente Javier Milei enfrenta dificuldades para conter a desvalorização do peso argentino antes das eleições de meio de mandato, em meio à atuação criativa dos operadores de câmbio. A tradição de controles cambiais e crises econômicas levou os investidores a desenvolver estratégias lucrativas, como a compra de dólares no mercado oficial para revenda no paralelo, drenando reservas do banco central, de acordo com o Financial Times (FT).

Entre abril e agosto, operadores individuais adquiriram US$ 9,5 bilhões (cerca de R$ 50,7 bilhões) do banco central, o equivalente a metade das exportações agrícolas do período, dificultando a recomposição das reservas internacionais. A incapacidade de acumular dólares gerou desconfiança nos mercados, provocando queda nos ativos argentinos e alimentando expectativas de uma desvalorização iminente do peso.

A instabilidade se intensificou após uma derrota eleitoral local, que enfraqueceu o apoio às reformas de Milei. Apesar de uma promessa vaga de apoio financeiro dos EUA, o peso teve oscilações bruscas. Milei culpou os adversários políticos pela pressão sobre a moeda, mas analistas apontam que a busca por proteção cambial antes das eleições também contribui para a alta demanda por dólares.

A diferença entre o câmbio oficial e o paralelo incentivou operações de arbitragem como o "el rulo", facilitadas pelo afrouxamento dos controles em abril. Estratégias incluem a falsificação de faturas para serviços externos e o uso de cartões em estabelecimentos fictícios no exterior. A criatividade dos operadores é alimentada pelas distorções cambiais e pela necessidade de interpretar rapidamente as novas regras.

Na tentativa de conter a arbitragem, o governo restabeleceu restrições à revenda de dólares comprados oficialmente e pressionou os aplicativos de carteira digital a suspender operações à taxa oficial. As medidas visam preservar os US$ 7 bilhões (mais de R$ 37,3 bilhões) atraídos por incentivos à exportação, mas enfrentam resistência de uma população acostumada a contornar regras.

O corte no fornecimento de dólares oficiais ao mercado paralelo agravou a desvalorização do peso paralelo, ampliando a diferença cambial para 5%. Essa disparidade estimula práticas como aumento de importações subsidiadas, pressionando ainda mais as reservas do banco central e exigindo novas regulamentações para conter os efeitos colaterais.

Economistas alertam que o banco central dispõe de apenas alguns bilhões de dólares em reservas líquidas, insuficientes para sustentar o peso por muito tempo. A expectativa é que o governo venda o máximo possível antes das eleições, mas uma mudança na política cambial poderá ser inevitável após o pleito.