ENERGIA NUCLEAR

Rússia tem muito a contribuir para soberania e transição energética do Brasil, diz deputado Julio Lopes

Por Sputinik Brasil Publicado em 09/10/2025 às 20:17
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O potencial brasileiro no mercado global de energia nuclear é enorme e a Rússia pode ser um parceiro-chave para incrementar esse domínio. Essa é opinião do deputado federal Julio Lopes (PP), presidente da Frente Parlamentar de Energia Nuclear, que retornou recentemente da conferência Semana Atômica Mundial, na Rússia.

Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, ele comentou que o Brasil tem avançado no desenvolvimento do setor nuclear recentemente. Dentre os avanços, ele citou a criação da Agência de Segurança Nuclear e parcerias público-privadas:

"Temos uma empresa privada brasileira, trabalhando em consórcio, trabalhando em conjunto com a [estatal russa] Rosatom, para desenvolver um microrreator brasileiro. E isso é muito importante, financiado pela Financiadora Nacional de Estudos e Projetos, que é o nosso FINEP".

Segundo ele, a empresa Núcleo Brasil Energia desenvolverá o microrreator brasileiro, que faz parte do Grupo Diamantes, um dos grandes grupos de energia brasileiro, "que, inclusive, tem lá o Porto de Pecém [Ceará] também, e o complexo termoelétrico de Jorge Lacerda [Santa Catarina], que é o maior complexo termoelétrico a carvão da América do Sul".

Lopes também saudou a possibilidade de implementação de pequenos reatores nucleares modulares na Amazônia com apoio da Rosatom, anunciado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A tecnologia de ponta é um dos maiores desenvolvimentos da estatal russa, a primeira a conseguir conectar um reator do tipo à rede energética nacional.

Ele ressaltou a que a Rosatom é uma empresa que tem geradores nucleares flutuantes, um "exemplo para o mundo inteiro".

"O Brasil gasta R$12 bilhões de reais para transportar óleo para as áreas remotas da Amazônia. É uma grande despesa pública, com risco enorme de contaminação dos nossos rios e florestas. Obviamente, o processo mais adequado é que a gente tenha geração de energia naquela região e gerar essa energia a partir de micro e pequenos reatores nucleares, tanto melhor", comentou "Vejo com muito bons olhos essa fala do ministro no sentido de que vai desenvolver uma parceria com a Rosatom para a gente avançar nessa questão desses reatores. É algo muito prático, efetivo, que é você poder transportar um reator, acoplá-lo numa cidade, numa área de energização e fazer a energização daquele local a partir de um reator embarcado. Achamos que faz todo sentido essa parceria".

Em maio, o ministro esteve na Rússia com empresários da estatal Rosatom para fortalecer as relações bilaterais, em uma agenda que tratou de energia nuclear, mineração sustentável, combustíveis limpos e transição energética.

Na oportunidade, o ministro teceu foco especial na energia nuclear e no aproveitamento de minerais estratégicos, como o lítio e o urânio, deixando claro que a cooperação com Moscou pode acelerar a produção nacional e fortalecer a cadeia produtiva.

O presidente da frente argumentou na entrevista que o Brasil tem todas condições para atingir eficiência e domínio do setor nuclear:

"[...] Somos um dos pouquíssimos países do mundo que tem todo o domínio do ciclo nuclear e, assim, nós devemos continuar a fazer, a desenvolver e a buscar", disse ele.

Além disso, salientou, o Brasil é um dos seis países do mundo que é capaz de enriquecer o urânio com tecnologia própria.

"Inclusive, enriquecemos o urânio até 20% do isótopo, o que é bastante mais do que os 5% necessários para tocar uma usina nuclear. O Brasil, então, tem todo um escopo de tecnologia, de conhecimentos e de engenharia que precisa preservar e continuar a desenvolver".

Usina de Leningrado

Lopes também comentou sobre sua visita à usina nuclear da cidade russa de Leningrado:

"É uma usina bastante complexa com uma potência muito significativa. Mas ela é uma usina também parecida com as usinas de Angra 1 e 2 que nós temos aqui que a gente visita com alguma frequência [...] E eles estão ampliando aquele sistema térmico-nuclear. E o que nós precisamos fazer aqui é concluir a nossa obra de Angra 3. Eu acho que, inclusive, lá a usina de Leningrado é bem parecida com o contexto que nós temos ali em Angra com Angra 1, 2 e agora 3, que já tem 63% construído".

Angra 3

O deputado lamentou que o projeto da unidade número três de Angra, Angra 3, na cidade de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro esteja paralisado, apesar de estar com 63% das obras concluídas.

"Esses 37% ainda faltam e há ainda um recuo do governo na direção de implementá-lo. Então, a gente tem esse problema para vencer e, portanto, não há ainda nada em relação a outras usinas nucleares definidas. Esse projeto, de fato, é uma coisa que não é tão simples de decidir, muito em função das dificuldades também que o Brasil atravessa nesse momento [...] Mas o que a gente acredita é que, à medida em que empresas privadas, como a Núcleo e outras, se interessem pelo desenvolvimento de pequenos e médios reatores, de pequenos e micro reatores, a gente avançará nessa direção", concluiu ele.

Lopes ponderou que embora o investimento para concluir a obra da usina de Angra II envolva cerca de R$ 23 bilhões na compra de reatores, o custo econômico deles é menor com previsão de funcionamento para até 100 anos.