Correios anunciam plano de reestruturação com novo PDV e renegociação de contratos em meio à crise financeira
Estatal acumula prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre e busca empréstimo de R$ 20 bilhões com aval do Tesouro Nacional para manter operações até 2026
O presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, apresentou nesta quarta-feira (9) a primeira fase do plano de reestruturação da estatal e um conjunto de medidas emergenciais para conter a crise financeira enfrentada pela empresa, que acumula sucessivos prejuízos e tenta recuperar o equilíbrio das contas.
O programa inclui corte de despesas, renegociação de contratos, diversificação de receitas e um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV). “O primeiro ponto fundamental é um programa de demissão voluntária. Esse programa está sendo tratado de forma cuidadosa para identificar onde há deficiência e ociosidade”, afirmou Rondon. Ele também destacou que a venda de imóveis deve ajudar a reduzir custos e reforçar o caixa da companhia.
Além disso, os Correios planejam reaproximação com grandes clientes para aumentar a receita e reduzir a dependência das operações tradicionais de correspondência, que seguem em queda.
Situação financeira crítica
Os Correios registraram prejuízo líquido de R$ 2,64 bilhões no segundo trimestre de 2025, após perdas de R$ 1,72 bilhão no primeiro trimestre. Em 2024, o déficit totalizou R$ 2,6 bilhões, elevando o rombo acumulado no primeiro semestre deste ano para R$ 4,3 bilhões.
Empréstimo de R$ 20 bilhões
A nova gestão também tenta viabilizar um empréstimo de cerca de R$ 20 bilhões, com garantia da União, para assegurar o funcionamento da empresa até 2026. As negociações estão sendo conduzidas entre o Tesouro Nacional e um sindicato de bancos, formado por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e instituições privadas.
“O contrato de crédito está sendo estruturado dentro de condições adequadas, mas que também garantam o cumprimento das obrigações da empresa”, disse Rondon. O governo deve exigir contrapartidas, como venda de imóveis ociosos, digitalização de serviços e revisão de contratos internos, como parte do ajuste fiscal da estatal.
Troca de comando e desafios internos
A grave situação financeira levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a trocar o comando da empresa em setembro, substituindo Fabiano Silva dos Santos por Emmanoel Schmidt Rondon, economista e funcionário de carreira do Banco do Brasil. Rondon é considerado um gestor técnico e mantém diálogo direto com a Casa Civil, embora os Correios sejam vinculados ao Ministério das Comunicações.
Os gastos com pessoal continuam sendo um dos maiores desafios da companhia. No primeiro semestre de 2025, essas despesas cresceram 9,3%, totalizando R$ 5,6 bilhões, enquanto o passivo com benefícios trabalhistas já chega a R$ 13,7 bilhões, entre obrigações de curto e longo prazo.
Nos últimos anos, os Correios vêm recorrendo a financiamentos para manter as operações. Em dezembro de 2024, captaram R$ 550 milhões junto aos bancos Daycoval e ABC, com vencimento neste ano, e em junho obtiveram R$ 1,8 bilhão de um novo sindicato de bancos, com vencimento em 2026 — recursos que, no entanto, não foram suficientes para conter a escalada dos prejuízos.