DIPLOMACIA

Vieira e Rubio tentam destravar encontro entre Lula e Trump após meses de impasse nas relações bilaterais

Chanceler brasileiro busca garantir que reunião entre os presidentes vá além de gestos simbólicos e avance em temas comerciais e geopolíticos

Publicado em 15/10/2025 às 17:28
Ministro Mauro Vieira Arquivo/Câmara dos Deputados

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reúne nesta quinta-feira (16) com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, em meio a um esforço de reaproximação diplomática entre Brasil e Estados Unidos. O encontro ocorre após meses de impasse nas relações bilaterais e tem como objetivo preparar o terreno para a aguardada reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, prevista para ocorrer à margem da Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia.

Vieira e Rubio já haviam conversado por telefone na semana passada, em um diálogo de cerca de 15 minutos — poucos dias depois da ligação de meia hora entre Lula e Trump, que marcou o primeiro contato direto entre os líderes desde o início das tensões comerciais. O chanceler brasileiro tentará garantir que o futuro encontro presidencial vá além de gestos protocolares, resultando em avanços concretos na agenda bilateral.

Tarifaço e sanções na pauta

As relações entre os dois países se deterioraram desde 9 de julho, quando o governo Trump anunciou a sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, atingindo diretamente os setores calçadista, têxtil, de máquinas e equipamentos e de frutas. O republicano também condicionou a retomada das negociações comerciais ao arquivamento do processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), condenado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.

Na reunião com Rubio, Vieira deve tratar de temas prioritários para o Brasil, como a reversão das tarifas impostas por Washington, a retirada das sanções aplicadas a cidadãos brasileiros — incluindo o ministro do STF Alexandre de Moraes — e discussões sobre segurança internacional. Entre os tópicos estão os ataques de barcos venezuelanos em águas internacionais, a guerra entre Rússia e Ucrânia e a situação na Faixa de Gaza, após o recente acordo entre Israel e o Hamas.

Interesses divergentes

Nas negociações, Brasil e Estados Unidos chegam à mesa com interesses distintos. O governo brasileiro busca redução de barreiras comerciais, previsibilidade nas relações e acesso ampliado a mercados estratégicos. Já Washington quer acesso privilegiado a minerais críticos, regras mais brandas para grandes plataformas digitais e uma postura mais previsível do Brasil em temas geopolíticos, especialmente diante da aproximação brasileira com a China e os países do Brics.

O presidente Trump tem pressionado por garantias de que o Brasil não se alinhará a polos rivais, chegando a ameaçar novas tarifas caso o grupo de economias emergentes insista em reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais.

Energia e minerais estratégicos

Durante audiência no Congresso, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, revelou que foi convidado pelo governo americano para discutir minerais críticos e estratégicos, como lítio, níquel e terras raras — insumos essenciais para a transição energética global e a produção de baterias e semicondutores.

Fontes próximas às negociações afirmam que o Brasil tenta deixar de ser apenas exportador de matéria-prima, buscando desenvolver cadeias produtivas locais com transferência de tecnologia. Os Estados Unidos, por outro lado, pressionam por acesso direto às reservas brasileiras e acordos de fornecimento estável, dentro de sua estratégia de reduzir a dependência da China.

Disputa digital

Outro ponto de tensão é o campo digital. Washington tem cobrado regras mais flexíveis para as big techs americanas, enquanto o governo brasileiro defende soberania de dados, regulação das plataformas e tributação de serviços digitais.

De acordo com um interlocutor próximo à diplomacia brasileira, o Brasil busca equilíbrio e previsibilidade, enquanto os Estados Unidos procuram influência estratégica e garantias de alinhamento político em meio à crescente disputa global por poder econômico e tecnológico.