RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Análise: Brasil e China ampliam cooperação econômica com foco em setores estratégicos e soberania financeira

Por Sputinik Brasil Publicado em 15/10/2025 às 18:30
© Foto / Divulgação / Ricardo Stuckert

A intensificação das relações econômicas e diplomáticas entre Brasil e China tem se traduzido em novos instrumentos de cooperação bilateral.

Um dos principais exemplos é a criação de um fundo entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco de Exportação e Importação da China (CEXIM), voltado para o financiamento de projetos em áreas estratégicas como transição energética, economia digital e desenvolvimento sustentável.

O aprofundamento da parceria bilateral ocorre no contexto do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A visita oficial de Lula à China em março de 2023, ao lado de ministros e empresários, e a recepção pelo presidente Xi Jinping marcaram uma nova fase na relação entre os dois países. De lá para cá, essa parceria só tem se fortalecido, e ganhou um novo impulso com o afastamento dos Estados Unidos em relação aos dois países, motivado por disputas comerciais.

Segundo Maria Raquel Nunes Serrão, doutoranda em economia política internacional pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esse movimento fortalece a autonomia financeira do Brasil.

"Parcerias para investimento entre Brasil e China têm fortalecido laços econômicos e financeiros bilaterais, promovendo uma independência maior do Brasil em relação a acordos com instituições financeiras internacionais como o FMI [Fundo Monetário Internacional]", afirmou.

Serrão também avalia que a aproximação sino-brasileira tem caráter estratégico e duradouro.

"O fortalecimento das relações entre Brasil e China visa um 'jogo de ganha-ganha': um desenvolvimento conjunto, benéfico para ambos países, que abrigue interesses de cada lado. Para o Brasil, essa parceria é uma fonte alternativa de cooperação e financiamento que reduz a necessidade de recorrer a empréstimos e ajustes condicionados por organismos multilaterais como o FMI", avaliou a analista.

Para Gustavo Alejandro Cardozo, pesquisador sênior do Observa China e coordenador do Núcleo de Trabalho China-América Latina, o fundo bilateral representa uma oportunidade de fortalecer a indústria nacional e qualificar a mão de obra local.

"O fundo bilateral representa uma grande oportunidade para o Brasil investir em setores estratégicos com apoio externo, mas sob gestão nacional. Ao financiar projetos de transição energética, economia digital e desenvolvimento sustentável, é possível criar programas de formação para profissionais brasileiros, fortalecendo a mão de obra local", disse.

"Essas linhas de crédito podem ajudar a consolidar clusters nacionais mais competitivos e autônomos", acrescentou Cardozo.

O pesquisador destaca que a iniciativa está alinhada com os objetivos do plano Nova Indústria Brasil, lançado pelo governo federal. "O plano Nova Indústria Brasil, ao buscar modernizar setores industriais-chave, bem como promover a inovação e a sustentabilidade, está alinhado com essa iniciativa", disse. Segundo ele, o fundo pode contribuir diretamente para "a digitalização da indústria, a adoção de tecnologias de baixo carbono e o aumento da competitividade global das indústrias locais".

Cardozo também observa que esse tipo de parceria amplia a margem de decisão do Estado brasileiro sobre seus investimentos.

"Esse tipo de parceria permite que o Brasil tenha mais autonomia na gestão de investimentos estratégicos. Ao contrário dos acordos com o FMI, que geralmente vêm acompanhados de condições macroeconômicas rígidas, esses fundos bilaterais oferecem maior flexibilidade e controle sobre a forma como os recursos são alocados", arrematou.