Barroso se despede do STF com homenagens, reflexão sobre voto no aborto e planos para retiro espiritual
Ministro deixa a Corte nesta semana após 11 anos, em meio a celebrações, análise de processos pendentes e preparação para viagem de meditação
A menos de dois dias de sua aposentadoria oficial do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Luís Roberto Barroso vive uma semana marcada por homenagens, reflexões e ritos de despedida. Após mais de uma década na Corte, o magistrado encerra sua trajetória com celebrações discretas, análise de casos ainda sob sua relatoria e preparativos para um retiro espiritual, que fará logo após deixar o tribunal.
Nesta quarta-feira (16), Barroso participa de um encontro de encerramento com sua equipe em um clube de elite de Brasília, organizado por seu gabinete. A celebração sucede um jantar reservado realizado na noite anterior, na casa do advogado e cientista político Murillo de Aragão, no Lago Norte, que reuniu ministros do STF, integrantes do STJ e nomes da política nacional.
Entre os presentes estiveram Kássio Nunes Marques, Luiz Fux, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e os ministros do STJ Benedito Gonçalves e Daniela Teixeira. As conversas giraram em torno da sucessão no STF, com os nomes do advogado-geral da União, Jorge Messias, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, citados como possíveis indicados.
Apesar do clima descontraído, Barroso evitou cantar — hábito recorrente em eventos informais — e foi cumprimentado por colegas pela condução do STF durante um período de fortes embates institucionais e julgamentos de grande impacto político e social.
Últimos atos e reflexão sobre o aborto
Antes de deixar o cargo, Barroso ainda avalia se liberará seu voto no julgamento sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, iniciado em 2023 com o voto da ministra Rosa Weber, que se aposentou logo depois. Segundo interlocutores, ele considera divulgar o voto antes da aposentadoria, o que poderia destravar a análise da ação no plenário virtual.
A aposentadoria antecipada do ministro abre uma nova vaga no STF, cuja escolha caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista se reuniu na noite de terça-feira (15) com quatro ministros da Corte para discutir a sucessão. Segundo relatos, Lula indicou não ter pressa na decisão, mas ouviu dos magistrados o pedido de que o futuro nome tenha “peso institucional” e capacidade de manter o equilíbrio interno da Corte.
Retiro espiritual e planos pessoais
Antes do encontro com os servidores, Barroso recebeu em seu gabinete a professora de meditação Erica Berto, representante da organização Brahma Kumaris, que o acompanha há anos em práticas de Raja Yoga. O ministro planeja viajar ainda em outubro para um retiro espiritual, com o objetivo de aprofundar a meditação e reduzir o ritmo após deixar o tribunal.
Barroso presidiu o STF entre 2023 e 2025, período marcado por decisões relevantes em temas ambientais, eleitorais e de direitos fundamentais. Em seu discurso de despedida, no último dia 9, afirmou que deseja “viver um pouco mais a vida que me resta, sem as obrigações e exigências públicas do cargo — com mais literatura e poesia”.
Com sua saída, o Supremo passa a ter dez ministros em atividade até que o Palácio do Planalto indique e o Senado confirme o novo nome para a Corte.