Impasse na construção civil: Obra de prédio residencial no Centro do Rio é barrada pelo Iphan
Há 11 anos sem solução, o terreno na Avenida Presidente Antônio Carlos enfrenta a negativa do órgão federal. O caso se soma a outros entraves que dificultam o plano Reviver Centro, incluindo projetos vetados na Zona Portuária, como o Cais do Valongo.
Um terreno na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro do Rio, segue há 11 anos no centro de um impasse entre a construtora SIG Engenharia e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O projeto, que foi reformulado para ser um residencial com a aprovação do plano Reviver Centro, foi barrado pelo órgão federal.
A construtora pretendia erguer dois blocos de 25 andares e 82 metros de altura, no mesmo patamar do Palácio da Fazenda, que fica em frente. O diretor da SIG, Otávio Grimberg, defende que o projeto é salutar e critica a postura do Iphan, que "não está olhando em relação à evolução que a cidade está tendo". A construtora chegou a recorrer da decisão.
O Entrave do Patrimônio
O Iphan justificou o veto afirmando que a construção causaria "impactos significativos à ambiência da Santa Casa de Misericórdia" — um bem tombado ao lado do terreno. O instituto lembrou que o empreendimento também fica no entorno do edifício-sede do Ministério da Fazenda e da Igreja de Santa Luzia, ambos tombados.
O caso não é isolado e expõe a dificuldade de implementar projetos em áreas históricas. A Cury Construtora, por exemplo, teve o projeto de um edifício de 23 andares indeferido pelo Iphan na Avenida Venezuela, na Zona Portuária. O motivo foi a possível interferência no Cais do Valongo, que é Patrimônio Mundial da Unesco por ser o vestígio material da chegada de africanos escravizados.
Leonardo Mesquita, vice-presidente da Cury, afirmou que a indefinição torna o processo de adquirir terrenos na região muito difícil e, no caso do prédio da antiga maternidade Pró-Matre, a empresa optou por doar o imóvel para que a prefeitura instale o Museu Rio África.
Críticas e Soluções Híbridas
O arquiteto e urbanista Washington Fajardo avalia que, muitas vezes, as cidades "desaprenderam" a fazer projetos contemporâneos em áreas centrais, desenvolvendo uma cultura técnica habituada a lidar apenas com terrenos "virgens". Ele criticou a contradição de órgãos de patrimônio que, ao serem pouco demandados, podem ter a tendência de tratar tudo como um "monumento original".
O Iphan informou que está analisando o recurso interposto pela SIG em setembro. Enquanto isso, a Cury tem focado em parcerias com o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), lançando empreendimentos que incluem a preservação de muros, casarões e galpões históricos dentro da área de condomínios.